agosto 30, 2010

mia

Quando ria
o corpo todo
dela tremia

Trêmulo eu,
aqueles seios,
lambia

A boca dela
na minha,
ardia

Minha mão
naquela, pele
escorregadia

Em cima do meu,
o seu corpo
amacia

Abria a boca
e sem dizer
me pedia

Língua dela,
o que fosse
me fazia

E se pouco,
ela feroz
me mordia

Sua voz,
ao gemer
melodia

Quanto mais,
pude ver
me queria

E quando ria...
ah, quando ria
o corpo dela

todo tre-mia!

agosto 28, 2010

S

seu nome escorrega e vai
nesse vai e vem, vem, meu bem
seu nome de s é sal a gosto
é te esperar com tanto desgosto

seu nome de seu tem de sua
vai numa volta e volta noutra
eu me perdi nessa sua curva
e agora te espero com a chuva

seu nome de s é saudade
saudade que cala e não volta
saudade que fica e engasga
saudosa no nome e e na vida

agosto 22, 2010

te vi por acaso na cidade

te vi por acaso, entre as ruas da cidade e sem acaso você mal falou comigo, dirigiu seu olhar (de um azul gélido que nem sei) e eu, um pouco assustada - como não poderia? - ao te ver ali, bem ali, me pegando desprevinida, num encontro que ninguém sabia. nada fiz, além de te despejar o meu longo olhar, que é castanho, porém é cheio de vontades de você. queria era te fazer meu homem, embora você já o seja antes disso, com esse seu cigarro pendendo da boca, a menina, a menina sou eu, com uma flor mastigada entre os dentes ainda brancos (e os seus são tão amarelados, amor!). mas sem pestanejar, meu homem você não, seguiu em frente, indiferente e só, plácido e lascivo - nos meus mais sorrateiros pensamentos, lascivo e languido, de frente para mim. você seguiu pela cidade, se confundindo com a sua cor, o tom bege das pedras da calcada, as pastilhas desgastadas dos prédios antigos e decaídos, os tons de cinza do asfalto. tornou-se a cidade, parte dela, massa não compacta e heterogênea, convulsionada, louca e colorida. confundiu-se com os rostos tristes, semblantes de quadros modernistas, a boca encerrada por si e os olhos abertos sem ver e o corpo que se move apenas pelo objetivo bastante e só. o quão egoista é este mundo! o quão egoísta você se tornou, misturando-se à turba urbana, à trupe fria que habita esta mesma nossa cidade. e fico crente de perceber que você é tão piche quanto o asfalto, tão argamassa quanto a construcão, um mosaico sem forma das pastilhas caídas e amareladas, o tempo que escorre pelas paredes e postes, o chiclete na rua que nunca some. será que toda a forca que vem do meu amor, todo amor que dediquei à sua revolucão entoada não por poesia, mas por brados políticos carregados de intencões e estigmas maquiavélicos acabará por terra - não terra, mas cimento, então, soterrado pela ausência de timbre? vermelha era sua camiseta quando na rua te avistei, mas já não sei se vermelho é o seu sangue e se em seu corpo deterioriado pelos vícios da idade (e da cidade) guarda uma alma singular, a louca e única faísca de algo que escapa, a diferenca mais explosiva entre ser humano e ser turba conformada. só não sei se de seus olhos escapariam uma chance de tudo desafiar e de me amar, ao menos no seu pensar, e de amar (ao menos então!) o mundo que o envolve - ainda que sádico, trágico, cômico, ignóbil, doentio e estremuchado. espero, enfim, o chamado da sua alma para um dia talvez de você realmente me aproximar e não apenas te olhar entre os tantos (e os tontos), distanciada e só, assim como olho para esta minha cidade que, apesar de tudo e tanto, não parecer. espero que no azul do teu olho exista uma chance de fuga, para assim, fazermos da cidade nossa morada, nosso mundo, nosso ideal e fazer brotar do cinza do chão o vermelho sangue que corre por suas veias, pois ainda não morta, mas em coma sem diagnóstico nem acompanhante.

p.s: perdoem a falta de cedilha.