julho 10, 2013

ensaio para vômito

eles quiseram que eu falasse de mim. eu só sei falar de mim se falar a você. desde quando então que descobri que a única forma de escrever seria escrever para o outro. o outro, você, um ser irreal. virtualizado. eu não sei. escrever ao outro é prescindir de uma existência mas também da sua distância. da sua falta de corporalidade. o outro para quem escrevo, existe, de fato, mas também não: nunca poderá existir.

abrirão-se buracos negros de infinito azul e monstros comerão o outro quando diz, que de fato, existe. e que me lê. e que me vê. não. vê as palavras flutuando. mentiras. adjetivos cafoninhas.

talvez eu tenha parado de lhe escrever, mas também de ver seus vídeos, suas fotos. me dói muito pensar na quantidade mínima de registros. vou reconstituir as falas e todos os. o que faço com as imagens? é preciso que elas existam em mim. ah pequena. ninguém deverá sentir pena de você. a falta dos cabelos, tudo. os olhos. 

os olhos! sei lá. perder-te só fez afundar-me mais em mim. chafurdar nessa que sou: e que mal tem de mim aqui. nada. mas é impossível: tudo me leva à descrença. ao risível da existência, o outro. o espaço o espaço o espaço o espaço. mantendo-se seguro sozinho CUIDADO CÃO BRAVO e chorando silenciosa enquanto bate siririca. que bosta.