outubro 26, 2008

domingo

ou não. tem dia que eu gosto de ficar todo o dia na cama. gosto de rodar pela cama de casal japonesa trezentos e sessenta graus, olhando cada detalhe do meu quarto que eu esqueci. minha fada lá em cima que finge que voa, mas nunca sai do lugar. os cartões postais que são só borrões coloridos sem sentido algum. o pedaço iluminado do mundo que invade pela sacada aberta. e a preguiça que desmorona. gosto de olhar todas as falhas do meu corpo, e gosto de saber que não há ninguém pra eu comentar sobre isso. posiciono a metade da cara no colchão, e imagino que apenas um olho inquieto fotagrafe todas as cenas mudas. gosto de deixar meu cabelo como ele bem quer, do jeito que acorda. eu esqueço como é não-fazer-nada. gosto de preservar esse tempo, se puder, 24 horas só para mim. como meus dias de semana, além das obrigações óbvias de duas escolas, tempo pra leitura só depois de comer a marmita requentada (isso quando não já gente para conversar), depois que chegar dar atenção à irmã (como regra diária), conversar com a mãe (se ela estiver disposta), seguir para mais obrigações que não levam à nada, querer ver filmes, ler livros, conhecer gente, aproveitar todas as oportunidades escassas de algumacoisalegal nessa cidade, querer escrever, querer filmar, querer participar de grandes projetos, querer achar um Deus por aí e só ver o quarto quando for deitar. ter sonhos estranhos, que me obrigam a acordar, e a me revirar, e me deixar com a sensação de não saber o que é real. entre tantas coisas, esqueço-me de mim mesma. preciso desse dia só para deitar e pensar, sozinha, em qualquer dúvida existencial ou bobeira ou me iludir. ou simplesmente só olhar, com olhos cansados, para poder descansar.

outubro 20, 2008

como faz

pra arrancar o que resta de você daqui de dentro?

outubro 12, 2008

maldade,

podaram minha (?) dama da noite.

deixa eu ter minha (mesmo) casa. então, eu não vou podar nada. vou ter tantas e tantas plantas por todos os cantos. e redes para se deitar. com janelas grandes, ou paredes feitas de vidro. mas as plantas, eu não vou podar nada. eu vou deixar como elas querem estar. pode ser tropical demais, bagunça demais, feio demais. não me importa. vou deixar livre para estar. por que podar o que há de ruim? se o que é de ruim é o que nos diferencia. ele matou, ele se viciou. ela cresceu por toda a casa e a engoliu. assim deve ser. deixa o tempo mostrar do que ele é capaz. capaz de curar e destruir. simultaneamente. prefiro deixar as folhas secas, prefiro deixar que se consuma em mim mesma minhas tristezas. minhas maldades. minhas falhas. e do quê eu cuidar também. até me engolir por inteira. e assim será.