junho 30, 2010

minha tartaruguinha

quisera eu saber escrever de outra coisa - nessa viagem que faço, já pensei muito em outras histórias, sempre envolvendo mulatas, desilusão, miséria e amor - mas nada disso me contenta. vou seguir a minha alma, o que estrangula minhas entranhas e faz meu coração bater pausado, quase parando de tristeza. meu espírito sempre voa e pára em você... sofia.


hoje nós jogamos suas cinzas. o que são cinzas, nana? cinzas são... um pó.. ah, cinzas são... deixa quieto. não é bom saber o que são cinzas, basta saber que elas existem, doem mas existem, e é preciso espargi-las. espargi-oquê? jogá-las, sabe? não sei se esse verbo serve só pra cinza, não entendo bem disso, tudo que eu me lembrava de cinza antes de hoje era do filme Chocolate, filme esse que você não viu, mas eu vi milhões de vezes por tê-lo em casa. e neste filme, a mulher guarda as cinzas da sua mãe, carregando por onde for, numa urna - sim, urna... quem é que deu esses nomes para esse tipo de coisa também não sei - bonita, de pedra. mas cinzas não são para serem guardadas, doem muito assim... é preciso libertá-las, deixá-las voar, seguir seu rumo, como seguiu sua alma. essas cinzas a gente jogou no mar. esse praia, chamada praia dos padres, ninguém conhecia. e acho que assim fica bonito: a gente lança ao desconhecido. é uma praia bonita mesmo, você precisa ver. tem uma orla de mata atlântica (árvore de todo tipo e tamanho), um coqueiral (um monte de coqueiros, que dá uma vontade de sair correndo entre eles), uma areia grossa... você não gostava tanto de areia, né? pois bem, mas boa de se brincar, eu mesma fiz um buraco e achei uma alga lá no fundo. acontece por esses mares aqui perto o encontro do atlântico norte e o atlântico sul, uma ressurgência. ressurgência de ressurgir, de renascer. e esses dois pedaços de mares se encontrando, tentando se achar. e também é a foz do rio -foz? onde o rio desemboca: nas águas no mar. é tanto encontro para tentar te encontrar... e você, solta, leve, entro da gente, num fio que nunca se soltará. mas deixa eu lhe contar: neste mar tem muita alga calcária, muita pedra, muito coral. coral tem uma diversidade danada, é bonito de ver. você ia gostar. coral é onde o Nemo mora. mas você não gosta tanto de procurando Nemo, mas você se lembra...? as anemonemonemonas! a gente viu uma porção de peixinhos, peixinhos bonitinhos. e por aqui, vem as tartarugas, as história da tartaruga, se lembra? essa eu contei faz pouco tempo - e a tartaruguinha queria ir na festa lá no céu, mas o céu era distante, e a tartaruguinha viajou na aba do elefante. e vem também as baleias, lá por setembro, e alguns pinguins perdidos, é um paraíso sem fim, de bichos dos mais bonitos. e um mar azul, um mar verde, um mar assim, que eu definiria como sendo a cor dos seus olhos. uma cor assim: era azul, ficou verde; quando chorava, azul céu, e alegre verde-água, o mar de vai-e-vem, um olhar de ressaca - e então, quantos corações arrastaria? sei que na escola, já teve um namoradinho, o Juan - Juan, nome de príncipe até! - mais concorrido na sala, e até brigou com a sua melhor amiga que o roubou, a Flora. e você até mordeu ele, de gostar, de abocanhar. nessa ânsia de viver, você viveu de tudo. eu quase não mordi nenhum menino de tanto amar, veja só. a vida é mesmo engraçada. e a gente jogou perto de uma ilhinha submersa, a ilhinha sofia. e quando jogamos junto com as sempre vivas da bahia - flores que nunca morrem - veio uma gavota pequenina, branquinha avoar. gaivotinha que era sofia, era você, voando, em cima da gente, supervisionando nossas lágrimas. e é tanta coisa bonita, tanto consolo... ah, sofia. você tá no meu coração... sempre estará. e toda vez que eu olhar para o mar, eu verei dois olhos me espreitando e pedindo para brincar.

tá bom, nana, mas agora vamos brincar? vamos vai, porfavore!

junho 04, 2010

sofia

está passando Mister Maker na TV. vamos ver, pra gente fazer um trabalho bem bonito. bem trabalhoso. com tinta. canetinha. cor-de-rosa, sua cor favorita. saudade de te dizer pra usar as outras cores, e você insistir em rosa, rosa, rosa. tão menininha. você gostava de desenhar umas pessoas já, que eram umas formas com olhos nariz e boca. era engraçados, pareciam fantasmas. eu os adoro. e eu e a mãe te dizia pra você parar de ouvir xuxa. mas você nunca parou, só quando quis. te deram todas as xuxas possíveis, a nosso contragosto. e você cantava e dançava, toda feliz. a gente acabou entrando na dança também - literalmente. mas o que eu gostava mesmo era quando a gente dançava aquele cd do Antonio, aí a gente pegava uns bichinhos de pelúcia e jogava pra cima quando tocava aquela música do chico buarque com os trapalhões - que fala de circo e de cambalhota. você foi no circo, sofs? não sei, não me lembro. eu imitei uma palhaça pra voce, não é? na corda bamba, aí eu espirrava, caía, voce dava risada, depois fazia igual. queria pular em cima da bola de pilates, igual eu, ás vezes comia o que eu comia. e quantas vezes a gente brigou ein? que coisa, hahahaha, as pessoas devem rir de mim, mas a gente brigou sério, uma vez, eu fiquei ofendida, eu chorei, e voce irredutível e arrogante, quem vai pensa que eu tinha 19 e voce 4? hahahaha. voce puxava meu cabelo, me batia, e tinha vez que eu até achava engraçado. como eu era brava contigo, não é? gostava de ser brava, que era pra você ser uma pessoa boa, não sei, algo que passava pela minha cabeça, sem ser mimada, esse tipo de coisa de irmã mais velha. e eu sei que voce sempre ia voltar pra mim, toda amorosa dizendo 'nana...' porque eu tinha certeza do seu amor. voce tinha certeza do meu? talvez eu quisesse te dizer mais... posso te dizer mais? que eu te amo te amo te amo. te dando abraços e beijos. adorava te beijar, passar a mão na sua cabecinha, nos cabelinhos que iam crescendo, ou quando voce tinha cachinhos. ou abraçar voce, enquanto voce ia dormir, assim, o seu corpinho pequeno enroscado no meu. acho que não consigo mais escrever por hoje, sofia, volto logo mais: pretendo te descrever minuciosamente que é pra voce nao sair de mim, viu? não vai, não. te amo muito, esteja bem onde quer que esteja, te mando minhas energias mais sinceras e positivas dessa sua viagem. talvez eu te encontre um dia, mas agora eu tenho que fazer meu papel de filha muito bem - que responsabilidade voce deixou pra mim... - mas não tem importancia, eu vou cumprir muito bem, eu vou durar, viu? eu sei que voce quer que eu faça isso, eu vou fazer viu? vou fazer tudo que voce me pedir, vou sim, e eu que tanto quis que voce nao seja mimada, fazendo tudo agora pra você, hahahha, voce deve tá rindo gostosamente de mim, desse sentimento que só existem entre as irmãs - mesmo que a diferença de idade entre nós seja graaaaaande né? - esse sentimento de... sabe... essa provocação gostosa, esse amor de alfinetes, esse espeta-daqui-pra-dizer-que-me-ama. te amo como nunca vou amar nada, pronto, falei, você tá em mim, tá em nós, mas tá livre também... tá livre pra ser feliz e viver sem restrições... tantas privações, que chatice, não é? mas era preciso e vamos lá, não choraremos o passado que não volta. billy te manda lambidas, eu tenho certeza que ele gostava de você, viu?