junho 16, 2013

a besta

costas largas e ladras exercitam-se e excita o pudico de olhos claros e embaçados que mal vê se não a grande massa concentrada indo para frente e para trás para frente e para trás. a repetição cíclica parece besta, ao menos, besta como fera, diaba. a repetição vai de 0 a 1, a imitar os tempos do infinito, então - se é possível. e se não for, retoma os pensamentos, o franzino mordendo o lábios entre os dentes pequenos e roliços, se não for possível chegar-se a o infinito: de quantidades e qualidades, então entreguemos tais tempos tais exercícios tais costas ao inferno. isto aqui está um inferno, concluiu limpando a sujeira da rua das vestes bem passadas pela boa empregada, uma branca vinda do paraná que falava pouco e calculadamente quando a passagem do ônibus subia, o gráfico da inflação no jornal atingia níveis estratosféricos - diga-se fora do limite da tela da televisão. e inferno sendo, de brancas irritadiças a labaredas incontroláveis, tais costas subindo e descendo sem forma nem nome - parece não pertencer à corpo algum, parece não aceitar a existência do nome próprio - se faz a besta. a besta não é, nunca foi, o mal por si, per se, por sua índole, e sim um grande, uma coisa, indefinida, mais como um chuvisco, uma neblina quando se desce a serra, os carros buzinando e a noite se adensando, sobe à garganta um medo, um mal, insuspeito. ele não gostava de coisas que não se definia e por isso procurava, agora andando com os pés chutando a sujeira comum da rua, palavras, motivos, indagações, mas subia e ia aquelas costas magnânima e magnífica, de um encantamento despudorado que só pode ser concretizado no máximo torpor que o ser normal se digna a sofrer: excitação, dor, prazer, ereção. correu ao banheiro para se limpar, agora encabulado e de pálido tornou-se rosa, e voltou com os olhos baixos, que só da imagem se recortar à sua frente tinha medo novamente da coisa que viria: proporções que a mente não acompanha e que passa direto aos poros da pele, às sensações primárias, urrou de infelicidade animal e incompetente. com os olhos baixos e apenas mirando vez por vez, procurou os nomes e as definições das costas, da turba. sem nada encontrar e prestes novamente a fugir da mente qualquer segurança moral, olhou fixamente uma única vez para quase morrer dessa culpa alagada, gostosa, dolorida. então, sem se limpar, ligou para os homens e mandou mantar. o quê, perguntaram os homens, pequenos homens, aquilo aquilo, aquilo que se exercita, agiatava os braços em desespero e os homens, sem saber, explodiram o que havia a frente e tudo que se movia. acertaram. a besta é tudo e una e o inferno nada mais que a besta em si - pronunciou pomposamente o franzino e se retirou com as calças molhadas o suor na testa o lábio a tremer.