julho 27, 2014

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três amigas minhas foram embora. perdi-as aqui dentro também. juntar os cacos do meu quarto. ontem você chegou bêbado e espatifou a garrafa de vidro. fizemos sexo no perigo, você disse, depois que acabou. te olhei insuportável. eu tinha juntado os cacos. três dias sem botar o pé na rua, só o olho. me sinto repentinamente vigiada. ligo a webcam com uma desconhecida. ela pede que eu faça carinho nos meus mamilos espetados. disse isso: espetados. observei minha própria foto por duas horas. são mesmo assustados. como se nunca se soubessem à espreita. espremi-os e ela gostou. mas logo teve de sair. o sumiço dele ainda me impregna. me dá arrepio e dor, uma dor esquisita nos ossos dos pés. talvez porque a última vez que o vi fora ele caído no meio da rua. eu escondida nas sombras. liguei para várias pessoas, ninguém sabe. joguei fora meu chip, me recomendaram. dor na hora de urinar. perdi o telefone das três amigas, esqueci de copiar no papel. não sei se ainda são loiras ou morenas. pedi para uma delas me visitar. nenhuma mensagem de volta. 

julho 22, 2014

operária

quando eu te falei dele você
contei meias verdades
sinceridade cínica
(me protegi e 
quantas são as justificativas?
não poderia
assumir autorias
as obras de próprio cunho
embaraçam-me
fosse eu operária
de megacorporação,
ao menos
operária da vida
e não operária do eu
ou terceirizada sem motivo
deslizando quase à beira do mesmo abismo
escrevendo miudezas
pena de poetiza)
quando eu falei de você você
teria acreditado?
desconversei desconfiante
quem poderá crer?
destilo maldadezinhas
nada disso é minha culpa
don't belong to me
eu nunca nem fui do brasil ou desse canto
(te conheci?)
amnésias programadas
desconcertos de sátira
me eximo de tudo
(terminarei sozinha)

julho 16, 2014

querido,
essa é uma época sem craques, sem talentos. não brilham estrelas, quem dirá constelação. não sei que época é essa; os nomes serão rapidamente fagocitados.
talvez seja bom, toda aquela ladainha autoral, gênia, celebrária e cerebral. brando, dândi, dean, diniz, guevara, glauber, garrincha, inês. 
preocupo-me com a memória, que será dela. uns fragmentos de frase de twitter, nada a citar, teses sem referências, professorinhos suspiram. 
a convulsão de imagem é tamanha que não vai sobrar espaço, vão inventar pílulas de vídeos: tu toma e vem uns flashs, coisa instântanea, tá-tá-tá: a história gravada em frames.
os jovens continuam a querer propagar seus nomes. nunca percebem os anos que vivem, inspiram demais as istorietas do passado - istórias como se escreveu um dia - mas não sabem que diabo fazer com os diabos dos seus anos.
é sempre bom ler astrologia. capricórnios virão demolindo autorezinhos e tentativas fracassadas. um ou outro ídolo viverá, antes de cair em campo.
é uma época conturbada. volto logo para aí, um beijo forte.

julho 15, 2014

ela porquê tão de repente

ela: por que, de repente, ela me ama tão imensamente? por que agora se resvala, revela, rebola, se chafurda, encurta as frases, lambe os beiços, balbucia líquida, escorre, manda-me cheirar meus dedos cheios da gosma dela, sussurra, gouveia, engatinha por entre minhas tranças, me enraba, me laça? suplica amo ama, amo, mia, doçura. se por algum e tanto tempo esteve encarcerada, gestava, gestionada, envergada sobre mim, corria e dizia amo sim talvez com olhos secos e buracos pequenos.
ela: talvez estivesse à espera, à espreita, à noite, dentro da noite, loose, deslumbrada arrancava fios da cabeça e trançava-os bem uma mortalha e os olhos fantasiavam grotescos nada com nada, nenhuma, expectativa. 
ela. segurava os membros com os próprios membros, as pernas com os braços, as penas enfastiadas de piolhinhos. dentro dela cresciam tufos de mato e bromélias encrespadas. tiveram que dentro dela arrancar um pouco as ervas-daninhas e minhocas retorceram o seu estômago escabroso e a terra afofa água correria, erosões múltiplas. 
antes ela tivera medo que elas a esburacariam tanto até deserto e corvo: morte e dor. 
ela: piores são os eucaliptos.
ela. talvez não soubesse o que era amor, amo ama amo mia doçura, confundia coração acelerado com taquicardia dor de azia com borboleta no estômago literatura meiga com vida corrida, também não soubesse e não sabia, amor amo mia, sussurros e gouveios, reboleios de quem copia, queria só que metesse a mão no fundo e no fundo oco opaco.
talvez não exista mesmo almas, profundidades, artimanhas, o serumano, o universo pintado, só buceta, rabo corpo suor e solidão.
ela: por que insiste.
um buraco pode ser um buraco ou um fundo de um? ela. engatinha, chupa, chorosa, melada, tenta, pari com dor alumbramento. parte. ela. quer partir mas continua: engatinha, chupa, chorosa, melada, tenta, pari. 
não sei o que é fugir e o que é encorajar. não sei o que é apontar a espada pro mundo.
ela: te erodi, te arrombei, e quis comer tuas minhocas, mas caraminholas e mil caralhos, caraminhosa, corri.