novembro 14, 2011

outros

A coletividade virou cafona. Para salvar o meio ambiente, use sacolas de pano. Desgastada, porque empatou. Intervenções daqui e acolá. A coletividade não ilude mais ninguém, é melhor lutar por si, no seu quadrado.

Na era das expansões, nos fechamos em quadrados. O espaço já não nos detém. O tempo é contado a vira-gotas: depois de um segundo passado, o mundo já é mudado. Adeus, barreiras geográficas. O quadrado das barreiras sociais. Parece ser impossível passar ao outro lado.

Dentro do seu espaço-tempo primordial: uns amigos de quem gosto, pintar uma parede de verde-água, do positivo para o negativo. Um suco vegetariano para comemorar depois. Mudamos o mundo hoje, amigos. Sorrimos. Mil e uma visualizações no youtube. Sorrimos, dormimos em paz.

A geração das ações individuais: o máximo é um flash-mob engraçado. Por quê? Filhos da democracia assentada. Distantes de qualquer tempo: guerra/ditadura. A democracia nos deixou burros, burros demais. A democracia nos deixou cômodos, cômodos demais.

Não ultrapassarei as barreiras do sistema. Não desobedecerá às ordens judiciais. Se contentará em protestar dentro do que a lei, santa, permite. Sem maiores desdobramentos. O marginal inexiste. Os grafites estão em galerias. É preciso estar dentro, do mundo.

Não se vê aquilo que já pertence. Que já está ajustado às regras dos outros. Não é preciso ver. Engole-se com facilidade incrível. É tudo Nosso.

A individualidade paga com avanços mínimos, pulinhos de rã. Não sai do lugar. Ninguém ouvirá uma voz, sozinha. O mundo é vasto, o penhasco maior. Não há eco. Não há transmissão.

Propagação: de um para outro. Vamos celebrar a existência do OUTRO. Se o mundo fosse só você. Que merda seria. Eco. Não repetição, nem reiteração. Eco construtivo. Uma voz não pode ser única: tem de ser una.

A individualidade não nos deu poder. Não sei onde está. O nosso alcance vai até a parede branca do vizinho. Não será verde-água. A individualidade não nos levou à revoluções. Palavra distante, nostálgica: revolução. Radicalismo. Palavra mal-vista, mal-ouvida. Repito, para ganhar novo sentido. Precisamos de novos sentidos, construídos conjuntamente.

Apenas o abandono do velho, apenas o muro quebrado das regras sistematizadas. É preciso sair do quadrado para visualizar o mundo. É preciso sair do quadrado para ser visto pelo mundo. Se não, mais do mesmo. É um velho mundo, já acostumado com revoluções. Não pode mais ser de papel. É preciso ferro. É preciso cal e ácido sulfúrico.

Abandonar a noção de pertencer somente a si mesmo e daqueles que escolheu para ser sua patrulha: a noção de pertencimento a um ideal, a um novo mundo. Coletividade. Não só de sacolas de pano, abandono de um sistema que tem por base exploração. Por um outro que ainda não foi escrito. É preciso. Não mais se alimentar em velhas ideologias. Nem na ideologia que vigora, triunfante. Não ao triunfo. Sim aos perdedores, juntos. Eu, você e o outro. OUTROS. Coletividade. Resgatar a força poética da palavra. Refutar o indivíduo, pelo menos em crise. Pelo menos AGORA.