junho 26, 2009

morfina.

a letargia é minha dança favorita. e de tanto ser dança, e movimentar meu corpo pelas vozes d'alma, é apenas doença. estou mergulhada neste mar de nada; meu corpo é mero instrumendo vazio e vadio. e os olhos parados, e o sorriso esmigalhado de quem não quer sorrir, e a dor fraca de quem não sofre. um mar de nada; só branco e só preto; uma cor difusa que não tem cor. uso a morfina, o dia-a-dia para me afastar do que é profundo. todas as ações corriqueiras, meus gestos previsíveis a mim mesma, minha personalidade que só se repete, mina todas as contradições e aflições de aqui de dentro. me sinto centrada e normalizada. isso me aflinge. a falta de aflições é minha principal aflição. uma alma quieta, que não tem vontade de se impor, e um corpo que só segue, nesta dança estagnada. sou sedada por minhas próprias vontades. se há o que aqui de dentro poderia eu me admirar com meu próprio céu e meu próprio inferno, tudo escapuliu. sobrou-se pedaços, pensamentos coerentes, que seguem a corrente. a corrente que é próspera, e que leva pra frente. ah não! e se tivesse alguém que se desesperasse por estar sendo levada pelos ventos do acaso e pelas correntes que bem-se-quer, e se tivesse alguém, seria eu. minha'lma sem contradições é minha maior contradição. fiz uma imagem falsa de mim mesma. o espelho está rachado, e eu apenas me sinto mergulhada aqui. fui sedada. nada me atinge, aqui fora existe uma parede, aqui fora existe esta parede que me prende. e diz-me ela, ingênua em sua própria existência, que é minha proteção. em que hora eu pedi proteção? em que hora quis eu morfina eterna injetada em minhas veias? já não posso me lembrar, pois a letargia me impede. me deixa aqui, vivendo o que se há para viver, sem mais desejar nada. a letargia é meu vício, minha amada, minha protetora. a letargia acabará por acabar comigo.

junho 13, 2009

feliz dia da solidão.

o dia dos namorados não é só uma indústria comercial, como todos já sabemos. é uma pressão psicológica de todos os segmentos da sociedade e dos meios de comunicação. não é novidade que dia das mães e dia dos namorados tem a mesma finalidade lucrativa. mas! no dia das mães não só tocam no rádio músicas sobre mães, e nos canais de televisão programas e filmes sobre mães. mas isso realmente acontece com os namorados. eu não me lembrava desse fatídico dia, mas veja bem, certas pessoas ao meu redor me fizeram lembrar, com um quê depressivo por não estar acompanhada.
pode até ser verdade que vivemos numa era individualista e egocêntrica; mas temos que ponderar: não podemos ignorar o quanto a necessidade de se ter outro se fez mais urgente. não é como 1984 (o livro do george orwell) que falha em um aspecto social: a falta dos relacionamentos. hoje em dia, tudo é... tudo será... em torno disto. e não é que eu seja cética, política e fanática e só defenda causas humanistas universais. mentira. apenas lendo este blog, isso é facilmente suprimível. mas, veja bem: defendo também o relacionamento consigo mesmo. ou o relacionamento bizarro. o que carece de sentimento; o que transborda dele. a briga eterna da razão contra a emoção; um relacionamento complicadíssimo! defendo também os amores rápidos, e os carnais. e os eternos, fantasiados desde os filmes da Disney à propagandas. o que não defendo é essa ânsia de ter que namorar alguém. posso muito estar, à minha maneira, em minha cabeça. posso estar por um dia; e odiar pela eternidade. essa ânsia da estabilidade emocional. de se ter alguém sempre disponível, o mimo dos mimos. não digo que seja ruim. mas é que o mundo não aceita a solidão imprópria. pedem que se assuma a todo o tempo. e se não quiser eu me declarar e muito menos definir meu estado de amor? o amor é livre e atemporal. é isso que eu defendo. e tudo pode ser uma forma dele. a paixão pela vida - e por todos seus aspectos - é um compromisso tão febril quanto o seu namoro inconstante. hoje em dia, estar sozinha é estar mal. então, que não seja sozinha, que encare, então, todo tipo de gente, só para estar. parece que ter um tempo só para você nos afetaria. não poderíamos nos sentirmos carentes e sensíveis, pois assim redescobriríamos nossa alma repleta de vícios e virtudes que pretendemos esconder. repleta de paixões e vontades silenciadas. repleta de vergonhas, de passados obscurecidos. repletas de eu, eu verdadeiro essência eu, e que este eu nos assusta. não o eu que é para fazer seus amigos rir, ou para dizer alguma frase inteligente, ou este eu que você constrói e destrói a cada dia. o eu que está, lá, esperando para ser desvendado... e despertado! as pessoas nem mesmo se conhecem. e procuram se reconhecer em outros, desesperadamente. como se reconhecer verdadeiramente se estás a cega para seus tormentos?
e, sim, eu posso lhe parecer revoltada por estar sozinha, e ser parte (e sou) dos injustiçados largados à solidão que invejam as músicas românticas. mas me sinto bem agora. me sinto bem ouvindo pete doherty e sua fala rápida; meu vinho que salga e adocica minha boca; minha solidão que não tem nada de triste. talvez seja só poesia, mas quem disse que toda poesia é feita de lágrima?

(além do mais... vi o brad pitt duas vezes hoje.)