junho 23, 2012

o cinema

nos jornais dizem
musa de Godard ou musa de Sganzerla
à merda.

junho 20, 2012

lembro de como meus pés afundavam na lama

lembro de como meus pés afundavam na lama, na lama daquele jardim, aquela roça, poça. roçava em mim devagar e quase sem tocar e eu bicho solto corría corría. bom dia bom dia, você dizia. e meus pés afundados: minha saia levantada, minhas canelas parrudas, tenho uma pinta aí, veja bem. ou de tanta terra que aí não saiu. esfregou, esfregou e não saiu. deixa eu esfregar, meu bem, com jeito, sabão de pedra e carinho. olhei esparsa, desse jeito: esparsa, como se eu quisesse, ou se pudesse, me espalhar por todo o terreno, me debruçar, me esparramar. se eu pudesse ser terra lavrada: você poderia com seus pés em mim pisar. se eu fosse terra, então, nasceria para receber teus e os deles todos pés desde que o sol se punha ao sol se deitar e ser lar de tudo que há para ser lar: mesmo se lar fosse de cimento em cima de concreto em cima de pedra em cima de pé. pé, barriga, lesma. você derrubava a água quente em mim, devagar. eu mantinha a cabeça curvada: a nuca torcida, meu cabelo todo cobria qualquer resquício de. tudo eu quis cobrir de você, tudo que você pudesse de fato roubar, todo o resto, era a água que escorregava, quente, por todo o corpo dolorido. dolorido desse tal frio: era frio, me lembro. cobri de você meus olhos cheios de temor. corri, corri. de verde a cinza e esse verde acizentado, no mesmo. naquela mesma terra onde me afundei tentei voar. de tão rápido flutuar para longe daqui, daqui. minhas unhas cheias de terra, minhas unhas todas carcomidas. você as pegou com aquele seu sorriso: um quê de sinistro, um dente preto no meio dos outros. você me olhou quase como se reprovasse para depois meus dedos beijar, você e seus gestos fúnebres que me. que me faziam. meus dedos de terra, você os beijava, como se lambesse, os lambia, como se os comesse. os devolveu limpos: os devolveu brancos. lembro de como meus pés afundavam na lama, não podia saber o que era lama o que era eu. éramos da cor da terra, éramos fundidos à ela, todos dela, nela. mas seus dentes brancos enbranquiçavam tudo: enbranquiçou a cor de terra que tinha meus dedos, enbranquiçava, cobiçava o branco dos meus olhos, o branco dos meus. me escondia, e na rede, fingia que dormia, embalava, você cantava, me ninava, sua voz, era doce: me dizia, dorme, menina, dorme, menina, dorme, menina. você dizia que me protegia. e nessa rede eu me entrelaçava, menina, nessa rede eu me diluia, menina, lavrava essa terra de que sou feita, pronta para semear ser de raiz plantar batata beterraba e mandioca. todo o resto, o mundo, que amálgama. todo o resto o mundo, me encarava. e eu olhava diluída, eu olhava pinga-gotas, chuva fina. desse campo todo. uma multidão devastadora. devassidão, diziam: perfume barato, pérolas falsas, fita roxa, fita vermelha. longe, menina, atenta, longe, corre, menina, corre, menina, corre, menina. lá estará seu lugar. volta seu olhar: abaixa teu profundo, volta para lá. volta corre louca busca. o quê? e meus pés e meus pés afundados até as canelas parrudas (a pinta que não saía, era sinal de herança, era sinal de desgrança) nessa lama, toda a lama: toda minha lama que eu criei. você disse, boba, bobinha, jogou água em todo o terreno fez da terra boa terra lavada não sabe ao menos escrever confundia lavrada com lavada confundia tudo boba menina boba se esconde ao menos pára vem comigo eu te protejo. você disse, olhos nos olhos, romântico, a viola tocava ao fundo dirindondondirin: eu te protejo. eu e meus olhos e meu branco dos olhos (fraqueza minha eu toda feita de terra escura) eu e meus olhos marejados, minha culpa desluta. desistia. me lembro como eu desistia. me lembro como desistia: uma coisa no peito, uma coisa amarga. isto, isto, isto, isto. bom dia, bom dia, bom dia. eu ouvirei, bom dia bom dia bom dia, deixa-me esfregar sua pinta, bom dia, deixa-me te amar com cuidado, dentro do escuro, deixa-me, seu sussurro pasmo, nada diz nada. e seus lábios pegajosos: eu me. eu me. eu me porque não pude conhecer: o resto e o tudo o que eu me lembro: me lembro dos meus pés afundados na lama. me lembro, a lama, toda a lama, aguaceira danada, a lama já não lama. a cama firme na terra seca, chama. a terra boa e lavrada, bem lavrada, lavro todo os dias, lavro com amor, tenho amor ainda tenho amor costumava sintir aqui: amor uma coisa amarga. uma coisa amarga que vem me fazendo. inchando inchando inchando. como incha o inhame cozinhando. cozinha fumaça esquenta. o seu fogo que já não me. não me. lá longe louco se desenha: qualquer, se desenha, e seu lábio pegajoso: eu ainda quis, choro, eu ainda quis, o branco que revira lúcido: mas insana atento. silêncio, que atento. silêncio, que já não me lembro: quero me lembrar novamente. já não lavro, lavo. já não importa: toda a água para toda a terra, toda a água para lama. se lembro se me vale, amor essa coisa amarga e egoísta. se toda lama se na lama nasci vivo. não morro em seca terra lavrada, esparramada por você, bem lavrada, bem semeada, daqui saem meus frutos: minhas lesminhas formiguinhas minhoquinhas contorcendo-se todas. toda terra tem sua raiz louca: e lá corre subterrânea toda a nojeira escondida, minhas unhas, meu bem, cor de terra, enterradas, como a terra, adoecida, grito e te acuso: não me proteja. não me proteja. não me proteja. me poupe de me esfregar me poupe de seu. sou terra, sou toda, lavada em lama, esparramada, sou tudo: sobre mim crescem cidades crescem campos infindos crescem de tudo, só você não cresce, só você empata, seca. lembro de como meus pés: vou deixar que meus pés se afundem, se afundem, se afundem, se afundem, vou afundar-me toda, afundo, afundo, fundo, mundo, toda e tudo.

junho 15, 2012

sua meia falta me faz falta

sua meia falta me faz falta. por favor, volta. volta inteiro e todo. volta nem que for louco. essa meia coisa me desanda. ando em círculos porque não sei mais onde você pode estar. eu posso esperar. no meio do círculo, eu posso esperar, eu posso esperar nem que ventos derrubem todo meu redor. que derrubem e me mostrem, eu vou esperar. que me tragam você, novamente. faço essa reza, porque não sei apelar. não sei pedir. peço ao acaso que me traga: peço que volte a sentir falta desse ventre quente. quente úmido e pegajoso, o meu. talvez sufocante. eu não queria tanto assim, mas se não for tanto, não sei, faz tanta falta, tanto buraco, tanto vazio. eu ando ao acaso porque já não sei mais por onde andar. se não me deixa te seguir, ando por aí, sem propósito. alma depenada, pequena desgraçada. egoísta até a última ponta: eu queria te pedir pra ficar. queria te pedir todas essas coisas: desculpas obrigadas amos você ficas comigo ficas conosco não deixas. não deixa tudo desfalecer. eu não sei se vou para onde eu vou? estou completamente perdida. queria te prometer, para me dar acalento humano também: poderia ser assim tão fascista. queria te prometer felicidades risadas queria te prometer o que quer que você espere eu serei agradável leve fluida fofa flua. queria te mas eu tão chumbo e tanto - sempre tanto - não sei sou tão oh you silly, stupid pastime of mine. eu queria me livrar disso: eu juro, queria mas também queria, você de volta, você de volta como foi, mas não sei se posso, se posso pedir, se posso se tenho direito a reivindicar but i'm as good as asleep. vamos voltar a dormir como dormíamos voamos voltar voamos voar.  acho que vai estar tudo bem se só dormíssemos se não acordássemos para se eu fosse mais o que sou e menos o que sinto se eu pudesse esperar contar tempo não explodir. se talvez esteja tudo bem e tudo o que eu quero é mais do que, mas se: os seus olhos desviam. tenho tido devaneios profecias desde então tenho tido visões claras e tristes do que somos eu não queria. por vezes mil tive essas visões e nada fiz: apenas o fim latente e óbvio. óbvio! oh well. o fim sempre é óbvio intermitente mas me dói tanto. eu não queria que o fosse, nem o começo do eu vou me acabar nisso tudo: vou me charfurdar em tristeza em melancolia e tudo que resta de mim: caramuja lenta e desesperada tudo o que você poderia odiar: pesada e soturna minhas frases emblemáticas. tudo caminha para isso porque não há jeito de eu não entristecer e se você não pode mais aguentar minha tristeza silly stupid pastime of mine tudo crescerá em exponencial: em exponencial, eu não sei como fugir de mim mesma, eu queria eu queria ser outra, queria fugir, me ajuda a ser outra me ajuda a não ter que dar cada passo como se meu passo fosse pesado, diga: teus pés são tão pequenos, querida, mal fazem diferença no peso do mundo. e se você disser: meus olhos marejados te responderão, mas meus pés em você fazem estrago? mas meus pés em você, eu queria não por os pés, queria te por a alma, a aura, queria te por o que fosse leve, queria te dizer coisas bonitas que te fizesse acreditar na minha boa intenção mas eu não sei se as tenho se as tive se é possível tê-las. se todo esse meu amor é uma ponta de lança encravada em você, se dói, se doeu para colocá-la, se incomoda se ali está, se doerá ainda mais quando você terminar de tirá-la: eu não sei. queria amar brando e pouco queria só te cobrir antes de você dormir dar boa noite. boa noite. and i think if i didn't have to kill kill kill kill kill myself doing it maybe i wouldn't think so much of you. 

junho 06, 2012

desculpa (para você)

desculpa-me.
sou fraca.
desculpa-me.
estou oca.
abri a boca e sai de mim tudo que fede.
mas se gritei agudo
e te furei os tímpanos
choro arrependida
por ter me escolhido surda
pois tudo que me retumba
é seu ronco tímido.