dezembro 30, 2008

era ano novo.

José Paulo já tinha lá seus quinze anos. talvez desesseis. toda a virilidade dos dezesseis. e toda a vontade que não cabia dentro dele de provar algumas bocas e bocetas. mas era, como eles diziam?, um menino da roça. se não fosse pela pele queimada de sol e os braços já fortes talvez não desconfiassem tanto assim. até que abrisse a boca para falar. não era só aquele sotaque incompreensível de erres, era todo o seu intelecto transformado em ditados populares e sabedoria de terra vermeia. não havia muitas meninas lá, no seu canto de terra, e sentia, com pesar, esse drama. as meninas da escola que frequentava, na cidade mais próxima, não eram cabritas tão bonitas e não estava muito interessado naquele jeito tímido e difícil que elas, ainda, insistiam em fingir ter. talvez casasse com alguma delas, era óbvio que se casaria, mas por enquanto ansiava as loiras ousadas dos videos pornôs que via escondido.
mas era ano novo. e vinha lá aquelas primas de são paulo, a capital, e trazia as amigas. não eram tão sensuais quanto as loiras de seus vídeos piratas conseguidos a difícil custo, mas era o que mais se aproximava.
estava sem camiseta, na sala, esperando, o corpo rígido; não sabia porquê já se prostava ali, examinando seus braços queimados e os músculos delineados perfeitamente. mas, de repente, entrou pela porta uma das amigas da sua prima. meupaidocéu, que maravia. a menina tinha uns peitos grandes, o maior que ele já vira em menina daquela idade, e usava uma blusa decotada, podia ver as formas redondas pulando para fora, como se quisesse chamar suas mãos trêmulas. um descoro! ouviu as meninas da sua escola em algum lugar da sua mente. era loira, um loiro meio branco. veio um pouco tristonha, de cabeça abaixada. quando ela o viu, deu um sorriso, sentiu-se observado, sem algum pudor; resolveu sorrir de lado, tímido. ela logo acomodou-se do seu lado, bem perto, sem nem convite. essa a mamãe não aprovaria.
- oi, você é primo da isa né?
estalou um beijo molhado na bochecha. seus lábios rosados pareciam derreter-se por todo o seu corpo, parte a parte. hoje é meu dia, óóóia, hoje é meu dia, pai. ela tava de shorts, as pernas grossas, bronzeadas, tocando a dele.
- você não quer me mostrar umas plantações, mêu? eu não quero morrer de tédio.
a voz dela era clara e alta. ele não gostava muito da voz, mas o resto compensava. sorriu, parecia que seu corpo todo endurecera feito gelo. levantou-se e disse que era para segui-lo. logo estavam entre as flores perfumadas de café que enchiam as plantações. aquelas flores eram muito bonitas, ele achava, e ela o ouvia dizer isso, sem muito interesse. ela estava interessada nele, e só nele. ele não sabia se devia dar uma daquelas florzinhas branca para presenteá-la. achou que era uma coisa um tanto estúpida. ficou parado, olhando-a, uma mão coçando seus fios de cabelo cor de terra, a outra pendendo ao lado do corpo, sem jeito. ela aproximou-se.
- você tem medo de mim, menino do mato?
colou as suas pernas nas dele. ela sentiu o seu pau duro, duro como todo o resto do corpo. ela riu, divertindo-se. passou a língua atrevida pelos lábios.
- eu tenho a fórmula pro seu medo e pro meu tédio.
ele queria que ela se calasse, fazia ele se sentir um passarinho, mesmo com todos aqueles músculos, era só um passarinho encurralado numa baita armadilha. má que armadilha, homi. mostra pra ela que ocê não é frouxo igual os que tem lá na cidade dela. repetiu a última frase com a voz mais grossa que conseguira. ela deslizava a mão pelo seus braços, apertava a pélvis contra o pinto. enfiou a língua travessa na boca grande que ele tinha. ele liberou o bicho que adormecia dentro de si num segundo só. jogou-a, sem qualquer cuidado, na terra. segurou forte seus braços, enquanto deitava-se sobre a menina, pressionando todo o seu peso contra aquele corpo cheio de curvas. sentia suas pernas enlaçando-o, ao mesmo tempo que ela parecia fugir daquela brutalidade instântanea, tentando soltar seus braços. ele suava, ela continuava com a sua língua irreparável. as mãos dele apertavam forte os peitos grandes, os maiores e mais bonitos melões que já colheu um dia. ele sentia o cheiro da saliva dela misturado com o de suor que irradiava do seu próprio corpo queimado. quando suas memórias mais mesquinhas eram um punhado de pó insiginificante, ela abria o zíper da sua calça e deslizava a mão por debaixo da cueca passada e lavada pela sua mãe, que deus a tenha.
- acorda, que as visitas tão chegando, fio, vai pra sala.
a cabeça da mãe desaparecera pelo vão da porta. os lençóis estavam manchados. estava completamente suado. mas era só cheiro de homem.

a única amiga da prima que chegara tinha cabelos pretos que escondiam os olhos, era magrela e, por toda a noite, não botou sequer uma vez os olhos nele. mas sempre haveria um ano novo, disso ele tinha certeza.


(feliz-ano-novo.
afinal: não desistam; sempre haverá mais anos novos.)

dezembro 29, 2008

a cigana

a cigana dissera que, por seu cabelo ser muito avolumado e enrolado, atraía e guardava muita energia negativa. explicara rapidamente que tudo que fazia parte de nós captava energia dos lugares que frequentávamos. diante da decepção da moça, ela deu um sorriso de desculpas e disse que a cor da sua pele era ótima para espantá-las. mas o cabelo, o cabelo, não adiantava.
ela pensara que ciganas eram pessoas espalhafatosas, vestidas de cores fortes, com argolas douradas grossas penduradas nas orelhas grandes e cabelos tão mais volumosos quanto os dela. achava-as umas charlatãs, mas resolvera, sabe-se lá porquê, visitar a dita cuja. mas aquela, uma amiga a recomendara, era diferente. ela vestia uma bata simples de mangas compridas que ia até os pés. a pele era branca e os olhos de um castanho infantil. os cabelos, obviamente, eram lisos e colados ao rosto fino. ainda assim, tinham um corte curto chanel reto e sem graça. não tinha nem furo na orelha, assombrara-se a moça. ela mandou-a sentar no chão, e apoiar as costas em almofadas de cores zen. talvez fosse da linha zen-budista. ou espírita. ela não sabia muito bem a diferença. o lugar tinha cheiro de lavanda, e não de incenso estranho, e isso até a agradou, impedindo-a de xingar a tal cigana.
- qual a solução?
é cortar o cabelo, bem curto. é cortar o cabelo, bem curto. aquilo ressou distante dos seus ouvidos, como se fosse algo de possibilidade remotíssima. em seguida disso, ela começou mais a parecer-se uma cigana cinematográfica. preveu pequenos desastreses (que já aconteciam) devido à energia acumulada. e disse que seguisse seu precioso conselho, sua vida daria uma guinada. a moça preferia a zen-budista que essa profeta mandona.
- que guinada?
você vai conhecer um moço bonito. um daqueles que te pegam pela mão e levam para passear na rua, e a rua continua sendo feia, mas você a vê tão mais bonita. são esses caras, esses mágicos, ela comentou, esses mágicos que fazem essa vida valer. deu um sorriso sincero, pela primeira vez, e ela pode observar como os dentes eram amarelos e feios. parece que seus dentes também armazenam bastante energia negativa, senhora.
é claro que ela não seguiria nenhum conselho; mas diversos desastres tomaram conta de seus dias adiantes. esqueçera de desligar a máquina de lavar roupa, o bilhete único deu problema que lhe rendeu disperdício de duas horas do dia, e muitos reais a mais na conta de água. o celular caiu na privada e perdeu a sessão do filme que ela tanto queria ver. tropeçara e ralara os joelhos, imaginando quanta energia negativa devia estar acumulada com aquele sangue seco, mais parecido com ferida de criança. a pipoca estava de gosto péssimo, e o café tão forte que quase engasgou e cuspiu na cara do garçom que vinha de olho no último mês. ela não gostava realmente de café. olhou seu cabelo, com crescente desconfiança e repúdio, e foi aí que deixou cair o espelho de mão. o espelho rachou. oh droga, sete anos de azar, e eu já tenho tanto!
diante de tantas perspectivas, já não tinha carinho pela juba negra que se entrelaçava, de maneira selvagem, acima do couro cabeludo.
- corta aí. corta curto. só não me faz um corte sem graça. eu sempre fui moça marcante.
ouviu as tesouradas rápidas, de olho fechado. estava com medo de olhar o grande espelho do salão e este rachar. estava farta de tanto azar. enquanto ouvia zip! zap! imaginava se agora sua vida mudaria de direção, como a maldita cigana falara.
na esquina da sua casa, morava um moço que usava óculos quadrados, pois tinha miopia de sete e meio graus, e camisas listradas com botões cor-de-bege. o moço, em suas pobres horas vagas, passava pelas ruas procurando por nucas, gostava do desenho das nucas, gostava de como desciam até os ombros, os ombros bem feitos de mulheres pequenas, gostava tanto de nucas, e por isso, gostava tanto quando elas podiam estar à mostra. queria desesperadamente uma nuca só para ele.
a moça olhou-se e até que gostou do cabelo. passou as mãos por eles e sorriu, de leve. levantou-se e seguiu, sem um tropeço qualquer, para a vida que se garantia à frente.

depois de dois anos, mandou rosas à cigana. rosas brancas.

dezembro 27, 2008

fusca azul.

ele foi lá e escolheu um fusca azul calcinha.
simplesmente porquê gostaria de ver garotos e garotas e até marmanjos (em um lapso fiel à infância) se esmurrando, em brincadeira, quando passasse. sabia que, para os mais entusiasmados, a brincadeira poderia perdurar dias de vingança só para avistar primeiramente algum certo fusca azul. intimimamente, sua alma sorria, porque sabia quantos sorrisos desavisados explodiriam pelas ruas cinzas.
ele achava que o mundo continha menos fuscas azuis agora, do que quando era menino. entre outras coisas, isso provava que o mundo estava, realmente, no seu fim.
ele ficava contente de ter feito algo que, de alguma maneira, salvaria o mundo.
ou, pelo menos, retardaria sua completa perdição.
por isso, ele foi lá e escolheu um fusca azul.

dezembro 24, 2008

my fault.

você se tornou indiferente. você acha que é uma grande coisa, que faz parte de um seleto grupo de pessoas superiores o bastante para se envolver em emoções simples. faz dois anos que você não escreve no seu aniversário, não sabe escrever sobre você. superficialmente, você acha clichê. no fundo, é medo. quando você era pequena, gostava de escrever como as pessoas tinham esquecido o verdadeiro sentido das comemorações. dizia que na Páscoa, não eram chocolates, mas renascimeto. dizia que no Natal, não eram presentes, era Jesus. dizia que ano novo, não eram fogos de artifício, era vida nova e planos excitantes. depois, com o encéfalo um pouco mais carregado de informações vinda de todos os cantos, você achou melhor criticar. o espírito consumista do natal. a hipocrisia da família reunida. as listas que sempre falhavam, as retrospectivas pessimistas. você era uma adolescente. você continua sendo uma. mas já não escreve nada. é clichê comentar da celebração em família e mais clichê ainda falar que é tudo uma falsidade cultural imposta de cima para baixo. todos já sabemos disso, e você se cala. pouco a pouco, as comemorações perdem sua cor. você já não é criança para esperar ansiosamente pelo seu presente. ou pela festinha com seus amiguinhos ou familiares. você prefere ficar quieta e sozinha. por quê? o que resta a você é um pouco daquele pessimismo enfadonho, essa tristeza branca. você sente esse vazio. está tudo branco demais para se esforçar em colorir. os seus desejos são reais? você quer poucas coisas que podem ser pedidas a algum deus superior, agora. essa apatia te engana. parece que você é out demais para partilhar do tal sentimento que contagia todo mundo. parabéns, você consegue ser apática.

você se tornou ácida. se fosse se definir sem medo, diria que é apática, possessiva e ácida.


o que você fez todos esses anos?

dezembro 15, 2008

histórinhas de fim de ano.

de quem tá saindo. de quem tá no terceiro ano. de quem tá cagando nas calças. de gente como eu e mais meio mundo, para não ser tão egoísta.

sabe o que me pertuba um pouco? aqueles desconhecidos que você gosta. aqueles meio-conhecidos que você nutria certa simpatia. aqueles sujeitos que você olhava na escola e dizia 'cara, um dia ainda vou te conhecer!' e nunca conhece. nunca, agora é real. porque não virão mais dias na escola para você esbarrar "sem-querer" na pessoa, comentar sobre o tempo ou reclamar do ônibus. mesmo aquele cara que você achava que não era tão legal, mas que passava e fazia uma piadinha infame (talvez a mesma) e que você retribuía (a mesma também), mas que faziam vocês rirem (espontaneamente, por incrível que pareça). bem, acabou. raramente você tornará a ver o semi-conhecido. o quase-amigo talvez uma ou duas vezes nas férias, dependendo da reciprocidade. o desconhecido, apenas e somente se o destino ajudar. de qualquer jeito, sem espreitar os outros nos intervalos e entre-aulas; sem ouvir metades de conversa e elaborar teorias esquizofrências a respeito da vida alheia; sem verificar os casais que formam e desformam em uma velocidade absurda; sem cogitar a amizade efêmera; sem analisar as diversas panelinhas em seus cantos da escola ou surpreender-se ao ver tal gente em tal panela. enfim, morte às fofoqueiras de plantão e as que levam uma vida sem emoção!
mas logo eu que me seinto um pouco atraída pela vida alheia! a escola era um grande lugar para exercer meu poder de tentar descobrir o que há por trás de todos e de tudo.

(esse final soou meio ficção épica, mas deve-se ao fato que eu estou lendo aquela série - talvez cretina, não gosto de opiniões públicas - Torre Negra).

um bom fim de ano a todos os meus desconhecidos, quase-colegas, quase-amigos, quase-conhecidos.
espero que vocês levem uma boa vida

ou não.

novembro 30, 2008

Vicky Cristina Barcelona


gosto de filmes que tenham uma música só, se ela for boa o suficiente.
ah! existem mulheres mais bonitas que Scarlet e Penelope Cruz, existem? Woody Allen, você tá ficando espertinho; o mundo não aceita mais Annie Hall's em sua geneliadade louca e largada; queremos exuberâncias internacionais.
não gosto muito de narradores. eu o tiraria em algumas horas, mas confesso que ele é imprescidível em outras, principalmente quando a ironia se mostra mais presente.
o que faz Vicky Cristina ser um bom filme? com certeza não é o título. para mim, é a reviravolta de personagem. do início, percebe-se a exata diferença entre as duas amigas: uma louca e uma normal. estereotipadas, codificadas. pois bem, percebe-se que a normal, apesar de se apresentar mais cética e racional, consegue sentir intensamente algo que realmente valha. talvez seja o que Cristina sempre quis, e nunca achou, em sua inconstância um pouco clichê. Cristina não tem um envolvimento amoroso cinematográfico com Juan. ele caminha aos poucos, e distancia-se da paixonite devastadora que coloca em cheque todos os valores de Vicky. Woddy, por que a Vicky teve "algo" com o seu colega de curso? talvez para mostrar uma pré-disposição à traição, um arrependimento amargo ao se entrelaçar com o seguro marido sonso, os seus princípios esfarelados e a paixão ainda palpitante, apesar do tempo sem Juan. mas não parecia nada necessário, realmente.
Juan é um cara inexistente. é o típico de filme que gente de arte gostaria de viver. Europa, círculo social de cultos e artistas, bons vinhos, boas obras de arte, oscilação de humor, trios amorosos, amor livre. eu, ás vezes, duvido que isso exista. aonde estão os artistas incompreendidos, cópias de Picasso, em busca de amores inexistentes, francos, sedutores e carentes? há uma banalização em torno dos heróis cults, os libertinos-sensíveis-fracassados. deixa nós, pobre garotas de países subdesenvolvidos, a sonhar com o que inexiste. é quase efeito Príncipe encantado com jeito de Ogro.
Maria Elena é o ápice da dúvida: existirá insanidade talentosa, beleza virtuosa, intensidade espontânea desse jeito? mas chega de se prender aos valores reais. aquilo é uma ficção. talvez Maria tinha tudo para ser uma personagem complexa, mas torna-se até simples, porque segue esse mesmo estereótipo de artista boêmia depressiva e sexy. até mesmo quando aparece de surpresa, é quase como se o incosciente soubessa da sua permanência constante. gostar tanto da personagem e identificar essa permanência na vida de Juan me afetou. digo, em valores pessoais, reais, da minha vida íntima e muito bem escondida. por isso, fiquei um pouco incomodada, um pouco maravilhada. talvez eu fosse como Cristina, que se mostra um tanto livre, mas sente-se conformada o bastante para seguir em uma situação aparentemente absurda. são hippies ou boêmios? no final, são todos outsiders. o que não exclui Vicky dessa categoria do mundo moderno, onde tudo é dividido metodicamente. não é porque o medo toma-lhe como característica marcante, e pareça-nos um pouco chata demais sua vida em compração com a dos artistas tresloucados, em sua essência, grita uma força explosiva.
Maria tem a confiança sob ponto máximo, não se sabe a que ponto ela fala verdades ou mentiras, conhece-se pouco da sua personagem. parece um tributo às mulheres, ao enfatizar suas formas mais encatadoras que se mesclam e não se pode estereotipar. três, na verdade, são uma, e não em torno de um homem; um homem lindo, digamos, por todos os seus atos; em torno delas mesmas.
o final é contudente: tudo está como está. assemelha-se ao começo, e a impressão que deixa é a infelicidade de todos os personagens, apregoados a sua própria armadilha.
por fim, fica o que marca esse diretor-engraçadinho: a tragédia em forma de comédia.

novembro 15, 2008

18 anos.

e aí?

(ou seria
e dai?)

novembro 04, 2008

estamos bem mesmo sem você.

Anche Libero va Bene.

Minha mãe disse que a língua italiana vem dos poetas. se for assim, quero esquecer o clichê dos franceses. Encontros e desencontros em cafés irreais, cidade de luz, barcos rústicos, escritores decadentes, poesia urbana, cabelo curto e boina, fragilidade romântica. Nah.
O soar estridente das vozes desafinadas, gotículas de saliva acompanhadas de palavrões românticos, o impulso violento, facismo disfarçado, o carinho exagerado, sentimento escancarado, e ao mesmo tempo, muito bem escondido. Va bene.

Me fascina Tommi. Não consegue se recuperar tão facilmente como Viola das idas infindas da mãe. Inseguro, tímido, mas nunca que se admita. Impulsivo, inquisidor. Desacreditado, desconfiado. Pessimista. Gosta de fugir da realidade. Gosta de se proteger. Gosta de negar. Tem medo de perguntar se está tudo bem. Tem medo dos próprios desejos. Gosta de fugir. Gosta de agradar. Não encontra a si próprio. Sabe muito bem como ser ele. Não gosta de chorar perto dos outros. Não diz que ama. Mas ama. E chora.

de quem eu falo, do personagem ou de mim?

novembro 02, 2008

achei que era ressaca e era cólica.

por que os piores dias do mês coincidem com meu período mentrual?
ah vá, se é pra sentir dor, que sinta tudo de uma vez.

outubro 26, 2008

domingo

ou não. tem dia que eu gosto de ficar todo o dia na cama. gosto de rodar pela cama de casal japonesa trezentos e sessenta graus, olhando cada detalhe do meu quarto que eu esqueci. minha fada lá em cima que finge que voa, mas nunca sai do lugar. os cartões postais que são só borrões coloridos sem sentido algum. o pedaço iluminado do mundo que invade pela sacada aberta. e a preguiça que desmorona. gosto de olhar todas as falhas do meu corpo, e gosto de saber que não há ninguém pra eu comentar sobre isso. posiciono a metade da cara no colchão, e imagino que apenas um olho inquieto fotagrafe todas as cenas mudas. gosto de deixar meu cabelo como ele bem quer, do jeito que acorda. eu esqueço como é não-fazer-nada. gosto de preservar esse tempo, se puder, 24 horas só para mim. como meus dias de semana, além das obrigações óbvias de duas escolas, tempo pra leitura só depois de comer a marmita requentada (isso quando não já gente para conversar), depois que chegar dar atenção à irmã (como regra diária), conversar com a mãe (se ela estiver disposta), seguir para mais obrigações que não levam à nada, querer ver filmes, ler livros, conhecer gente, aproveitar todas as oportunidades escassas de algumacoisalegal nessa cidade, querer escrever, querer filmar, querer participar de grandes projetos, querer achar um Deus por aí e só ver o quarto quando for deitar. ter sonhos estranhos, que me obrigam a acordar, e a me revirar, e me deixar com a sensação de não saber o que é real. entre tantas coisas, esqueço-me de mim mesma. preciso desse dia só para deitar e pensar, sozinha, em qualquer dúvida existencial ou bobeira ou me iludir. ou simplesmente só olhar, com olhos cansados, para poder descansar.

outubro 20, 2008

como faz

pra arrancar o que resta de você daqui de dentro?

outubro 12, 2008

maldade,

podaram minha (?) dama da noite.

deixa eu ter minha (mesmo) casa. então, eu não vou podar nada. vou ter tantas e tantas plantas por todos os cantos. e redes para se deitar. com janelas grandes, ou paredes feitas de vidro. mas as plantas, eu não vou podar nada. eu vou deixar como elas querem estar. pode ser tropical demais, bagunça demais, feio demais. não me importa. vou deixar livre para estar. por que podar o que há de ruim? se o que é de ruim é o que nos diferencia. ele matou, ele se viciou. ela cresceu por toda a casa e a engoliu. assim deve ser. deixa o tempo mostrar do que ele é capaz. capaz de curar e destruir. simultaneamente. prefiro deixar as folhas secas, prefiro deixar que se consuma em mim mesma minhas tristezas. minhas maldades. minhas falhas. e do quê eu cuidar também. até me engolir por inteira. e assim será.

setembro 20, 2008

mentira.

o céu chora.
e eu acompanho.

setembro 06, 2008

o céu está claro,

azul-bebê. e o sol brilha, sem se preocupar.

quando eu olhava pela janela de um ônibus que eu nunca pego, pensando na merda da civilização e me indagando por que é que as pessoas continuam andando, esperando em pontos, comprando, andando, comprando, andando, trabalhando, andando, comprando, por que é que elas não - simplesmente - destroem tudo isso? por que é que elas não - simplesmente - acabam com tudo que as faz levar nos rostos tanta desolação? porque, deve ser, penso eu, as alegrias que conseguem, mesmo que falsas e temporárias, devem ser suficientes.
então quando eu estava correndo para pegar o outro ônibus, e um menino me avisou que minha carteira caiu, e quando voltei para pegar, outros dois caras pediram para o ônibus me esperar, e o motorista - realmente - me esperou (e tive que destribuir muitos obrigados em pouco tempo, ás vezacreditem) eu entendi que que que...
ás vezes nem tudo é tão cinza assim. ás vezes, vale a pena continuar e ver no que vai dar.


quem vai saber.
(isso é uma afirmação
porque estou cansada
de me perguntar
sem ter respostas)

setembro 03, 2008

alguém me diz

quantas máscaras ainda me restam. acho que vou precisar de umas várias ainda, sim. talvez para a vida inteira. talvez só no momento da morte eu dê a cara à tapa. literalmente, tapa até sentir sangue quente escorrer. e aí, talvez, eu poderei ter algum ato de coragem. algum ato de coragem por morrer, depois de uma vida de sombra e covardia.


eu até tentei me mudar - correção eu até tento me mudar - mas eu só sinto ódio. de mim para mim. do mundo, só trago a desolação.


a maldita desolação.




ah vai, me diz... me pinta umas máscaras, ah vai... que triste é o fim que não teve começo.

agosto 03, 2008

me diz, você:

e agora, o que vem?




será justo colocar toda a causa dessa angústia em possíveis hormônios descontrolados? ser triste e ser mulher é uma coisa um tanto difícil. difícil de saber se está triste por estar ou se tem uma explicação biológica para isso. acho isso um tanto chato. deve ser por isso que descarto biologia das minhas opções para o futuro - mesmo fazendo e gostando Meio Ambiente. gosto das sensações sem lógica, prefiro a alma ao corpo. e por que alminha, alma minha, está assim tão acizentada? parece que o humor muda com o tempo que faz lá fora. parece que o céu comanda nosso coração. mas essa perspectiva é também um tanto naturalista. oras bolas! por que diabos eu tento achar explicações - mesmo que sejam abstratas - para os meus sentimentos? deixem-me sentir, assim, por si só. mesmo que for insuportável, sentir o intolerável... se derramar em lágrimas enquanto a chuva ameaça vir. vem, chove... chove até nunca mais. que venham as tempestades.

maio 22, 2008

dos dias que quase não dormi,

porque vi Cama de Gato, Baixio das Bestas e Irreversível.
Vamos excluir Irreversível, e deixar nossos queridos nacionais. Não acho que todo mundo tenha estrutura e ânimo para vê-los. Não acho nem que o mundo todo precise vê-los. Acho que certas pessoas sim, para ver se esboça nelas um mínimo de reação. Reação pelo coletivo. Diferente de chorar porque o carinha largou a menininha, chorar porque é real, e é cruel, mas que nunca vai acontecer com você, pelo menos não sendo a vítima. Mas o fato é que acontece em outros lugares... e é impossível ignorar isso. Sentir aquela sensação de ser um grão de areia, de incapacidade, de que o mundo não tem solução, de que o ser humando é a pior criatura (e que se Deus existe, não faria tanta coisa ruim num ser só) - acompanhado de uma depressão, que se não tiver desprendimento o bastante, é capaz de levar à loucura. Acho fascinante, porém, que sejam nacionais. Para contrariar todos os jargões que brasileiro é babaca. Babaca é o filhodaputa que insiste em repetir isso. Como alguém disse outro dia, não existe brasileiro. O que existe são humanos, que são universais, e principalmente, inclassificáveis. De quem a gente diz quando se refere ao 'jeitinho brasileiro'? Ao povão? E que somos nós, então? Brasileiros esclarecidos, europeus ou americanos que, por incoerência do destino, nascemos no lugar errado? Vamos fazer o favor de esquecer essa história maldita que persegue toda nossa história. E a nossa história é sangrenta, suja, enfeitada para que se engane. O que existe é um povo enganado, estrupiado. E que cada vez mais não sabem o que é sofrer por uma causa conjunta, tentar mudar pelo todo, se alegrar por uma conquista popular - tirando os jogos da seleção. Isso que faz de uma nação, fraca e suscetível, individualista e sem perspectiva de futuro. Não há coletividade. E não estamos falando de periferia, esqueça a guerra do tráfico, a tropa de elite, a cidade de deus e o caralho todo. Estamos falando de garotos ricos. De garotos RICOS. Não saberia nem adjetivar eles de outro modo. Não digo que só garotos ricos que são ruins, e pobres são bons. Mas a questão é que todos eles estão aí na rua, praticando crueldades, soltos, mas o que fode no garoto rico é que, você sabe, ele sempre vai se safar. O pobre vai se foder, isso é invariavelmente certo, mas os outros...? E é nessa ferida que esses filmes - ma-ra-vi-lho-sos - tocam. Assim como Amarelo Manga.
Dos filmes mais assustadores e arrebatadores que eu vi, de te derrubar, realmente.
Mas que vale a pena - e eu já dei motivos o bastante para isso.
Só por favor, pelo menos, que tenham reação! Nem que seja inútil, é preciso querer reação!
Por isso que eu queria - e como queria - um dia conversar com ocê, Caio Blat.

maio 04, 2008

Garganta do Diabo

um dos filmes mais ridículos do mundo.

março 12, 2008

Amores Expressos, amores estranhos

se você não entende nada de cinema como eu, e tem a leve impressão que cinema oriental tem poucos diálagos e é aquele filme paradão, cult demais, coisa e tal, não se leve por isso ao ver Amores Expressos do Wong Kar-Wai! (se você entende taanto de cinema, o que faz aqui?)
eu resolvi vê-lo numa tediosa noite de domingo (nem tanto, pois precisava dormir pra segundona) e me surpreendi.
conta a história de dois policiais, o rompimento com o seu par e a nova paixão estranha. é um filme de amor com dois policiais, certo, mas não fala nada da profissão deles, e nem trata do amor do jeito que ele é retratado ultimamente, com toda aquela coisa carnal envolvida. não me lembro de cenas de sexo nem mesmo de beijos. mas fala de paixões. sou louca por filmes assim, como Closer que não mostra sexo, mas só fala disso, praticamente. e melhor! as histórias dos dois policiais NÃO se encontram (dar um tempo de toda essa safra eoooorme de filmes franceses de encontros de histórias diferentes, gente, CAN-SOU), elas são distintas, apesar de ter os seus pontos em comuns, como eu disse.
O mais legal do filme são todas as coisas estranhas, digo, se você gostou de O Fabuloso Destino de Amelie Poulain, deveria realmente ver esse filme. 30 latas de abacaxi (eca!) enlatado com a mesma data de vencimento, peixes pros aquários dos outros e tantas outras coisas estranhas e fascinantes que NÃO (e graças a deus) tem explicação, são assim só, por elas mesmas. É que toda essa coisa me fascina mesmo, quem dera eu ter toda essa criatividade.
Além do mais toca mais do que qualquer coisa uma das músicas pops mais legais do mundo: California Dream do The Mamas and the Papas (ou aquela musiquinha remixada que você ouviu no rádio no verão passado).

ah! talvez eu fale grandes besteiras dos filmes e não saiba analisar eles direitos, mas esses amores, esses amores são tão lindos! fui dormir meio atormentada, com dó de ter que ir dormir e não poder pensar a noite inteira da infinidades desses amores expressos, amores estranhos.

março 02, 2008

O Gangster x Tropa de Elite

parentêses não é pra levar nada a sério. eu não entendo de porra nenhuma, apenas gosto de escrever minha opinião. então aqui fiz para aqui escrever e ponto final, oras bolas. se eu tiver visistas (oque não acredito) enfio aquele treco do google para ganhar dinheiro, porque apesar de eu acreditar que o comunismo é a solução pro mundo, este não tá nem aí, e continua completamente capitalista. inclusive eu. fecha parentêses

Fi ver O Gangster, e eu com toda essa mania de anti-norte-americanos, avaliei o filme todo comparando com o Tropa de Elite. É um filme, na minha opinião, tipicamente americano. Temos aqui os elementos principais: Guerra do Vietnã (meeeu, como eles adoram essa guerrinha nos filmes!), um pouco de sexo (sem que isto mude o caminho do filme) pra atrair atenção dos espectadores, morte, máfia, negros no poder, boates com putas, etc etc. Principalmente aquelas citações irritantes "A América é livre, A América é blabla", sendo que a América é só aquela porra de EUA. Isso é extremamente iritante pra qualquer americano, sem ser estadunidense, com um mínimo de orgulho continental (digamos). Outra citação que se repete o filme inteiro é "MY MAAAN" e que aparece com legendas ridículas de meu camarada e meu chapa. Odeio citações que se repitam por todo o filme.
Enfim, quando cheguei a acreditar que o filme deveria ser exibido apenas nos EUA, percebi toda uma intenção maléfica. O final é justo. É diferente de Tropa de Elite, que se mata o traficante, mas que todos nós sabemos e o filme deixa isso claro: não adianta nada, a polícia e a justiça daqui é uma porra. Em O Gangster fica claro que os traficantes, ou melhor, mafiosos vão continuar a agir, mas deixa uma certa esperança que as coisas voltam ao lugar certo. Isso basta pra sair do filme até que feliz. E pior, cara, esses filmes tão cada vez mais desafiando o senso de justiça do espectador. Como um dia ouvi numa palestra que, hoje em dia, os valores se perderam, e o ilegitimo, proibido e errado se tornou o mais divertido. É claro que os meios de comunicação em massa, inclusive o cinema, perceberam isso rapidinho e cada vez mais saem esses filmes com vilões carismáticos, a gente acaba ficando na dúvida se o cara deveria sofrer ou não pelo que tá fazendo. Talvez os meios de comunicação que tenham provocado isso e não apenas percebido, mas isso é outra história. Acontece que no final os conceitos de o que é feio e o que é bonito se perdem. Perigosíssimo, diga-se de passagem. O interessante que fui ver com meus avós, e constatei que a geração deles tem esses conceitos em ordem. É mais ou menos assim: Quem mata é bandido ponto final
Além do que, temos a presença de um atípico e bobo policial honesto, uma espécie de Capitão Nascimento mais bondoso, um herói. Só que o tráfico que a gente vê nesses filmes estrangeiros é muito diferente daqui. Aqui é favela mesmo, neguinho, raríssimos policias honestos, muita corrupção, traficante manda-chuva, muita lama, muita mesmo. Na base, os meios para se chegar a essa situação são os mesmos, mas os traficantes de lá tem classe, são máfia (muito mais chique né). O problema é que o mundo inteiro tem viciado, e essa questão de refugio da realidade está muito mais ligada ao tipo de sociedade que se formou. Surge aquele desejo de fugir desse inferninho que temos que encarar todos os dias, é um fato. Mas isso são outros 500, e o filme não trata esse lado.
Enfim, dizem que é baseado em uma história real. Até fico invejada em saber que em outros lugares o final pode ser meio felizinho. Aqui a coisa tá preta.
A trilha sonora é boa (tirando as que os figurantes cantam - pééssimas), muita música negra boa, talvez ressaltanto o fato do manda-chuva da vez não ser da máfia italiana como mandava o costume, mas sim um negro. Ao contrário da trilha de Tropa de Elite que infestou infernalmente todos os cantos desse Brasil.