fevereiro 20, 2010

roendo unhas e sofrendo por uma amizade perdida.

por que eu fui nascer tão sentimental?

fevereiro 19, 2010

poema de seis estroes e quatorze palavras.

acaso
caso
aso
as


por acaso
caso contigo
logo te asso
às avessas


acaso
caso
aso
as


por
contigo
logo te (deixo às)
avessas.

três acasos
dois casos
quatro as
dois contigo
dois logos
dois tes
dois avessas

e só um deixa.

fevereiro 15, 2010

terça-feira de carnaval

deixei o homem em casa, batom vermelho na boca, pena azul na orelha;
a rua de paralepípedo, este vai-e-vem, vem aqui meu bem, nesta louca dança;
amélia, carol e lina, e a minha alegria.

a rua me seduz, toda gente é bicho, atrás de luz, mariposa, atrás de flor, abelha;
e o samba soluça seu choramingar, os corações juntos a batucar, corpo que nunca se cansa;
laura, luisa e josé, pisaram no meu pé.

o meu homem se enfadonha, dorme, ronca, não mais me olha, quem me molha é amé-lha;
olhou-me nos olhos, comeu meu medo, deu de carinhar, meu corpo nessa dança balança;
amélia, amélia, amor, sinto tanto calor.

noite, linda noite se consome, o sol que nasce minha alegria come, adeus amélia;
alma solitária, vazia, quase chora, maquiagem colorida se borra, toda euforia se amansa;
amansa amélia e tchau, até o próximo carnaval.

fevereiro 01, 2010

eu mesma.

sou eu mesma desde que nasci, se nasci quando me lembrei, se minha vontade criou-se do nada, ou tudo isso é memória recriada para parecer mais fantasiada? gostava mesmo dos livros encadernados, cheio de figuras, gostava do nome do escritor na capa. isso é presencial. talvez eu quisesse ser estrela - vamos parar de romantizar o meu passado. não é só porque eu nunca quis ser modelo, que não quis ser famosa. quis ser escritora, e ser famosa. obrigatoriamente. assim como a maioria das modelos não se tornam famosas, tampouco as escritoras. o mundo da moda e o mundo das artes se confundem muito facilmente.
então esta ilusão que sempre fui eu mesma, sempre introvertida e tímida, nenhum acontecimento me fez ficar assim. talvez alguns tenham intesificado, mas a personalidade veio intrísica aos olhos fugidios. e esta mania de desistir? não sei se foi criada, mas sempre me pareceu presente. talvez, então, tenha sido eu mesma, desde que nasci, lendo um livro, chorando escondida, gritando.
mas o mundo sempre se expandiu. o mundo sempre mudou! e eu me expandi com ele, eu não mudei um pouco de cada vez: foram explosões no espírito. no espírito do mundo. a primeira que tenho clara: quando mudei-me para o primeiro ano para o Bentão. saí de escola particular, pequena e apertada, sempre tive os mesmos amigos - crescemos juntos e agradeço por isso. descobrimos as coisas lendo na internet, compartilhando impressões assustadas, delineando nossas próprias personalidades teóricas, que não se repetiram em igualdade em nenhum de nós.
e então, o mundo novo se abriu. era tanta gente, era tana informação, era tanta coisa na prática: e foi tanta decepção. logo eu, queria entrar num mundo maior, num mundo de filmes punks sujos, e me encravei por pátios abertos, pelas turmas populares (enganam-se então, os filmes americanos, estas turmas populares, por excelência, acumulam um tanto de gente que os odeia, e não os inveja de jeito nenhum, e os populares na verdade, são os nerds, estranhos e losers). mas tudo foi uma festa: assim me lembro do meu primeiro ano, uma grande festa. eu estava espantada a todo momento, mas não podia deixar meu queixo caído o tempo todo. eu tentei me expandir a todo tempo, eu me adaptei rapidamente: logo, eu amava esse novo mundo.
mais recente, um outro mundo se abriu, muito mais real e sujo, quando entrei no cursinho. ainda bem que fiz cursinho, pois não estaria espiritualmente preparada para uma faculdade. novamente me assutei, e novamente fingi que tudo era normal, para os outros, neguei a mim mesma um passado de amores platônicos e desistentes, loucuras normais e conversas fúteis. finalmente: aqui estou. hoje sou menos culta do que nunca; embora sempre busquei isso. hoje, já tenho preguiça de citar livros e filmes, tenho preguiça de esconder meu preconceito, de não formar estereótipos. e também, hoje sou mais real. tenho até preguiça de conversas filosóficas em certos momentos, e do bom e correto sempre bem intencionado. estou propensa à loucura fútil e busco isso: busco uma dose de alegria na vida amarga. e poderá me dizer, então, ah que vida amarga o quê, que adolescente boba, que adolescente boba! este esteriótipo me percorre por toda vida. ainda peço desculpas por ser uma adolescente boba. mas veja bem: a vida me amargou já, a vida me deixou triste e pesada, me recobriu de chumbo, e foi quando eu vi outro mundo.
vi outro mundo quando descobriam o tumor da minha irmã, o meu próprio mundo, o meu espírito conturbado, o negrume de tudo, sim! e vi um mundo que não conhecia, só ouvia falar, o mundo da luta por doenças ingratas e sem explicação, misturado à falta de dinheiro, tempo, misturado ao cansaço de tudo, à vontade de desistir, e o amor. um mundo de amor e cansaço se abriu para mim, e o que parecia contraditório, na verdade, se fortalecia. não existe luz, sem sombra, já diziam tantos. este mundo fortaleceu meu lado mais íntimo: não era a vida (a grande festa) que se mostrava, mas sim a morte (a grande dor), face a face. conhecer a morte é um dos caminhos mais dolorosos para entender a vida, mas, por isso mesmo, perdura como não cem mil festas ou conversas profundas poderão nos ensinar.
vi mundos diversos: vi meu mundo desabar ao ser assaltada pela primeira vez (na verdade segunda, mas na primeira só tive vontade de rir - histórias à parte). um mundo meu que primava pela justiça social e pela bondade da natureza humana se desfez em alguns segundos de pura raiva. eu não pude entender - eu ainda não entendo - logo eu? olá, assaltante, eu estava disposta a mudar essa merda de sociedade por você, mas por que você faz isso? por que fala que vai me matar? eu já conheci a morte, você não deveria fazer isso comigo, você sabe, eu sei que você conhece a morte mais que eu, tão mais, que ela é banal para você. para você, então, conhecer a morte não fez celebrar a vida, e sim, tornar a vida um fiapo, um nada, facilmente eliminável. são destas coisas, não são? são destas coisas que me faz ter sentimentos nobres - eu disse que estudei em escola particular? - que me faz parecer superior, mas todos estamos num barco, mas o seu está mais furado que o meu, vê? e esteve afim de me afogar, já que o meu barco continha um buraco talvez consertável.
e o mundo se expande continuamente, e a minha alma aqui dentro modifica-se a cada expansão, mesmo que seja contraída, e fique com medo, que medo deste mundo! e mesmo com todo este temor, eu peço, quero que meu mundo se expanda mais, para assim, eu tornar a me assustar, e ter que me adaptar, e ficar por uns segundos eternamente encantada com o mundo novo apresentado.
mas os mundos se vão e são suplantados por outros maiores, continuamente, será? ou será que essa é uma fase adolescente, e quando os sonhos se vão pela realidade crua e tosca, o mundo tende a se tornar menor? cresce até não poder mais, como um balão, e com o passar dos anos, oi balão perde ar sozinho - não é sempre assim? - torna-se mucho e fraco, sem graça, até acabar por se esvaziar sozinho, ou então, alguém o estourará, irritado por este balão fraco e desajeitado - desaptado ao novo mundo.
espero que os mundos não sejam balões... mas será melhor estourá-los quando estão em sua fase melhor? cheios de vida, cheios de planos, cheios de cores, de um mundo grande, e você, andarilho, pronto para conquistá-lo e engulir tudo que lhe mostram no caminho? a morte será a explosão em pedaços rasgados de um mundo, e a eterna ilusão do espírito que ficou preso no mundo das maravilhas.
não sei, como eu saberei? por agora, o meu mundo se expande, e eu acompanho, saciada e feliz, por sempre me modificar, e por isso - então é por isso? - eu não sou quem nasci, de tanta modificação, mas ainda restará um pouco de mim em qualquer mundo que eu pise, não? ainda restará uma força mínima que me acompanha desde o nascimento, e esta força, que acabará por me enterrar debaixo de sete palmos de mundos pesados.