agosto 29, 2013

é do cheiro da sopa

querida, que saudades. dá-me apertos nos bicos dos peitos só de te pensar. querida. agonia. volta logo para casa. a cama desarrumada te espera. te esquento cuma perna só. querida, sem você, fico pouco. me arranjo debaixo da mesa, com medo. de gato. e o seu gato a me olhar com o fundo dos olhos. não gosto. deixei o bicho sem comer. não vá reclamar. é seu. também não como. só besteiras. acordo de noite perturbado, corro até a cozinha, pensei ter ouvido seu assovio. a cantoria que faz cozinhando às três da manhã. querida deixa disso. dá-me sopa aqui na boca, escorrega no meu umbigo com essa língua quente de tanto provar. cê anda provando demais essas comida. querida, há tempos, sua bunda cresce. quando cê chegar queria me enfiar nela. nunca mais sair. deixa-a grande, não me ouve quando fico amuado. fico mal humorado. falo da boca para fora. mas de boca, só a sua. me engorda. você partiu já há tantos dias que não tenho cuecas limpas. lavei-as hoje. e umas camisas. que é preciso trabalhar. ando trabalhando muito, para não pensar. e que abro a janela chegando em casa. que é pra ouvir o trânsito e compensar a falta. não se preocupe, não entra tanto pó assim. ademais, contratamos alguém para limpar. quero que você tenha mais paz. que seja rainha. como nasceu para. minha. querida, imagine só, levar esta vida. quem me dera, eu pudesse dar. te encher de súditas que te vestiriam, passariam cremes nos seus pés. e você em paz dormiria às duas. depois do nosso amor bem-lavado. uma banheira, querida. é o que nos falta. acho que gritaria menos, você mais. uma banheira larga o bastante para nós. e a empregada a esfregar nossos fluidos. querida, que saudade que me dá pensar nessas coisas. fluidos e tudo isso. seu cheiro, meu bem. promete-me que continuará a fazer a sopa. é do cheiro de sopa que impregna seu cabelo que eu gosto. seu cabelo, seu pêlo, sua porra. te quero aqui, negra e caldo verde, volta logo. antes que o gato morra. ou fuja. volta, se não eu mato. sabe bem que ele não gosta de mim. tem uns olhos bravos. de carinhos, só pra você. e você, não divido mais com ninguém. chega! já é hora de te ter toda. e sem choramingar. quando cê voltar, vai ver a festa que vai ser. eu e esse gato loucos por você. fumigando esse teu cheiro, fuçando tuas tripas. uma delícia. ás vezes o gato me olha e diz que você me deixou. é mentira. você nunca. nos amamos. é amor um laço eterno. e a vida anda dura, mas é preciso aguentar. tudo o mais, eu sei. mas juro que andamos melhor lá no trabalho. a vida vai melhorar. dinheiro, vai chegar. vou te receber com flores caras. é bom um mimo ou outro ás vezes. posso gastar. volta logo. 

agosto 28, 2013

pocahonta

vó índia, te vi hoje nas escadas do metrô. reconheci-te índia pelos formatos dos olhos enviesados, pelo nariz largo, a pele escura. e os cabelos curtos, com umas mechas pintadas de vermelho. índia, seus cabelos. seus cabelos pintados de vermelho, da cor da blusa de frio que usava. índia, não era assim tão vaidosa. a não ser pelo cabelo, bem que sim. depositava um olhar desconfiado a tudo. pensei eu, que não era tão vaidosa. vendo-te de perto vi uma argola dourada na sua orelha. passada a primeira escada rolante, segui eu confiante em direção a segunda. você foi em direção à escada. parecia cisma vontade inquietação de ganhar logo a rua. pegar o atalho mais fácil. a rua, a brisa, noturna. citadina, sim. mas ainda sim exterior. perdi-te. e te perdendo lamentei. que tristeza chamar-te de índia, vó. a pele sulcada de sol e de velhice. de índia, se não sei que índia. tal termo cunhado há tanto tempo, de dores e de generalizações. será você tupinambá, yanomami, guarani-kaiowá, mera tupi, macuxi, gajajaras, xavante ou pataxó? se assim o soubesse, se de você ouvisse, que diferença faria? nada sei se na tua tribo as meninas pescam ou cuidam dos filhos, pintam-se, brincam com macacos, buscam piolhos, escondem-se por um ano inteiro. nada sei, pois tudo que me ensinaram foi pataquadas, generalizações, fazer batuque com a boca aberta a mão, cocar. apressei-me sem contento a sair do metrô e visualizei você do outro lado da rua. como quis te encontrar e te parar e te apreciar. e sobretudo pedir perdão por não saber. por gostar de índio desde pequena dos documentários de tv que muito julgava o bem, mas que me fizeram especialista em nada, defensora de ninharias, distante o bastante para nunca. bem que você sabia que um dia, quando pequena, andei com meu pai distância enorme, quinze quilômetros, a procurar uma tribo de índios no guarujá. lá chegando dei de cara com casas metades casas como as minhas metade palha. fiquei triste tristinha me senti enganada, ó eu, tão judiada, como vocês indiozinhos não se manteram a ferro e fogo o que são pra mim ó eu branca descendente de europeus, índios como índios são nos livros? entrei na casa do pajé, a única inteira intacta, assim media completude, comprei bugigangas, colar de sementes que perdi, um chocalho que meu irmão ainda brinca, achei mal cheiro, me fui. diga, vovozinha índia, conto-te tudo porque preciso pedir perdão. olhei-te tanto a atravessar o sinal que você me olhou de volta. os olhos negros as argolas douradas a pele de cor-queimada. inventei em romance que me invadia a alma, mística, cósmica, fogueira e feitiço. pocahonta. mas tive que te abandonar à minha vista, pois precisava ir na farmácia a comprar absorventes. absorventes, coisas estúpidas, feitas de algodão, plástico não sei o que lá, o que é vocês índios faziam, havia de ter algo mais inteligente que isso. comprei obs, veja bem, que é o que dão a entender que mulheres mais inteligentes compram obs. não sei bem porquê. entrei em casa pensando em você tomei banho quente pensando em você pensando que talvez uma ducha quente seja bom para todo mundo, nesse frio, são paulo, não mais de paratininga, da onde você é? com quantos anos veio? pataxó, xavante, guarani. não faço a mínima ideia. mas a tinta vermelha do seu cabelo, urucum não, talvez tinta de farmácia com alguma magia. era vermelha mesma, não dessas ruivosas de velhas pimponas. um milhão de preconceitos prescrevo. como é difícil escrever sobre você, vó índia. vai com os deuses que não sei quais são. fico eu cristã burra universitária triste de saber o mundo só um pouco, bem pouco, tão pouco. olha-me de novo. esses olhos não me enganam. são de.

agosto 23, 2013

poeminha paulistano

prometia a tarde noite tenebrosa
chuvas tristes e pontes alagadiças
as pessoas murmuravam subúrbios
e murchavam morosas de antemão
a densa fumaça de nicotina totalitária
alertava o caos escuro da tempestade
os pássaros ressabiados se escondiam
e seu canto púbere não se entoava
cães ganiam gemidos e preocupados 
escolhiam túneis, viadutos, telhados

em vão.

a tarde se finou, enfim,
em esplendor
presenteou às criaturas vivas 
o halo da brisa.
o céu azulado e as folhas das árvores
enfim calmas.
quieta e tranquila a tarde
caiu em beleza.
e a tempestade que assombrava
se dissipou.





agosto 15, 2013

release do nascente

fezes foi o termo que encontrei para juntar tais textos sob uma ótica. fezes, não no sentido escatológico, mas sim na sua função primordial. fezes como o produto de um processo de digestão.

o processo de digestão, como aprendemos na escola, tem seus nomes e suas etapas. o tempo decorre em torno de um objeto esquizofrênico, em que precisei escrever para engolir. o resultado não é nada mais que a colagem irregular de pequenos processos. um registro em fluxo de consciência.

as fezes pode ser lida em qualquer ordem, assim penso, já que provém de um blog. e o blog define o formato dos textos: curtos, com erros, despreocupados com diagramação convencional e possibilitando uma leitura não-linear. 

o produto que apresento, as fezes, começa a partir do seu fim. é a partir do fim que é possível reorganiza-los a fim de dar alguma coerência. chegar ao começo de tudo não é necessariamente compreender o todo; mas o fluxo de consciência ganha a dimensão de memória.

as fezes quando não descartadas, mas salvas, em uma compilação de textos - que se pretendem dialogar entre si. e que, vivas como um único bloco, é a prova da memória sempre em fluxo.

mariana.sral@gmail.com
azulou.blogspot.com

(um cigarro antes e um depois para suportar e entrar no jogo; voilà, oxalà, etc.)

agosto 13, 2013

e até

olá querido, tudo bem? uma puta saudades de você andei sentindo, meio assim, e pensei - por que não? lhe escrever umas boas doses de palavras. sei que não fomos íntimos não sei nem se chegamos a ser amigos lembro-me de uma empatia estranha, querido, chegávamos a comentar, certa vez, talvez, que viemos do mesmo planeta: nesse universo enorme eu e você do mesmo planetinha. que besteira. essa mania de se achar alienigina, estrangeiro, fora de tudo, fora do mundo. você usava calças cáquis, é certo, é certo que quase ninguém as usava, não sei se fora o suficiente para ter vindo de outro planeta: cáqui e mosquitos de bunda laranja, boas doses de suco cítrico venenoso, ein? é certo também que você, querido, vinha de um lugar com nome e sobrenome, e tinha família, ascendência de não sei aonde. já eu vim dar umas voltas por pasárgada. que bobagem. vim dar umas voltas por lugares que não é bom citar: a definição é caga-regra por natureza. mas tudo anda a tudo bem. não há aqui mosquitos coloridos, muito menos vaginas coloridas. tudo anda a tudo bem. as vaginas são as mesmas, com as suas devidas diferenças. é curioso notar que uma vagina não é classista. não sei como devem ser com os pintos, talvez o mesmo. mas os pintos se erguem e saem, exteriores igual alieniginas, tem manias de se achar extra, de se achar out. um bando de bobagens, essa minha cartinha irônica, mas cheia de amores, espero que você entenda, relembre o tom de voz que uso - não quero ser a essa altura da vida, de jeito maneira, mal interpretada, se é que me entende, os conflitos me desgastam. se é que me entende, estou usando muito o recurso de ser entendida, com poucos palavras, quero deixar tudo às claras. espero resposta muito em breve, com algumas coisas metafísicas aqui e acolá, mas principalmente, me conte alguma coisa concreta, sua mãe, sua namorada, seu chefe. anda difícil pisar em ar. muitos beijos e até.

agosto 08, 2013

veja meu coração, quanto tempo. é preciso dizer algo alguma qualquer. não se deve dizer nada quando não se tem? se tem, ah sim, mas é que o. estou a falar de coisas clichês. engasga a garganta. 


a autocrítica insuperável, a perda depois de um possível obviamente falido prêmio. quatro mil era minha passagem pra bolívia. para comprar. é.


mas que adianta, senhora, sua burra, sua birrinha de merdinha. se autocritica mas só sabe escrever de si, então. então? ah. cala. não é possí


tudo desmorona e o sono. queria escrever uma carta para uma amiga, não consigo. para várias. oquedizer? que os meus olhos, então. ah.

foda-se essa coisa de olhos sua

estúpida!!!!!!! tudo sai ruim. socorro de eu euzinha euzinha coração encabulado enclausurado socorro a mão mãozinha que a água águinha égua e éguinha trotam e afogam desfolegam, meu deus!


me paguem pra eu escrever melodramas. mas me paguem, porque essa idiotice coraçãozinho sofredor tristezinha de janela abre o ruído dos carros lá fora e o vento arruinando arruinando arruinando e seu olhar preto sobre mim: que diacho que todas elas tem olhares pretos pra cima de mim.


arruinando arruinando, que porc. porca. ruim. que chatice. pára. não sei mais talvez se eu tentasse, um gênero policial? marcos saiu do trabalho às seis, chegou em casa e encontrou o filho trepando com o. namorado. cachorro. deu um tiro. no. namorado? cachorro? o filho miava. tinha problemas retardatários. alguma comissão de diretos irá me julgar, sim sim sim sim, esfregou as mão silenciosas brancas a pedra preta do anel refletia a maldade jugular dos olhos de marcos. pegou o. filho, namorado, cachorro, a comissão de direitos humanos. trepou.

que babaca trepar e trepar você diz escreve. uma adolesc. ah!

não-é-possível, não sei pra quem faço isso agora
agora acho que é só alguma necessidade babacas
de ver as letras sendo escritas nesse espaço bran

mas nada, nada, nada, nada, nada nenhuma conclusão nenhuma lamentação nenhuma narrativazinha. a salvação............. perdida. tudo aqui, pode entrar, é varejo. varejo eis o nome do texto. pode conferir, surgiu agora. varejo. só não tenho certeza se varejo é o que eu quero dizer: aquilo que se vende de monte ou se isso é atacado. mas como varejo veio primeiro foi. eis aqui a gênese desta merdinha que lhes escreve para si mesma mas esperando o outro os olhos pretinhos espreitarem zouidinhos. gênese da farsa, da idiotice.

FELIZES SÃO OS IDIOTAS.

tenho que me controlar pra não escrever frases babacas e de efeitos efeitos efeitos onomatopeias bestas e etc. e etc também, etc. sem etc e etc. e sem meta-piada. sem sem sem sem sem. e repetições escrotas. isso não é um poema prosa prosa poema você. é. banal.

e também pra não auto depreciar fingir dózinha ai.

resta parar. PARA. para.!