janeiro 22, 2015

(sem título)

olá.
olá, amor.
eu não sei, mas.
mas o quê?
eu sinto falta do calorzinho.
ahn
do seu calorzinho. do seu corpo cobertor.
vem cá. vai ficar tudo.
não, mas.
eu já te disse, então. isso é tudo.
(ela estende as mãos)
aham. eu gosto.
(um beijo)
ás vezes eu não sei se eu quero. se eu consigo. 
(ela dá de ombros)
que é?
fala.
eu também não sei, é isso aí.
(silêncio)
(mais silêncio)
tá ouvindo, eu amo essa música.
sim, eu também.
que bom.
(silêncio)
que vida torta.
você acha?
você vê lá na frente?
eu não vejo.
eu não vejo um palmo na minha frente.
muita neblina, né.
é.
(silêncio)
vai devagar.
ok, eu vou tentar.
mas o que?
eu não disse nada.
por que você vai tentar?
nada.
eu queria só chegar logo.
entendi.
(freio, os dois corpos vão para a frente)
o que você fez? (grita)
eu não sei, tinha alguma coisa (grita)
(silêncio)
por que você tá chorando?
(silêncio)
ein?
você acha que a gente matou algum bicho?
você acha?
eu vou sair daqui. 
é melhor.
(silêncio)
você continua chorando.
sim.
tá tudo bem.
sim.
eu tô aqui.
sim.
que tormenta.
(nada)
quanta água.
vai passar.
é.
você me beija, quando puder.
como assim?
você me beija.
sim.
é claro.
sua boca é linda.
(sorriso)
melhor a gente parar.
é.
vamos esperar.
vamos.
tudo bem.
tudo bem.
tá 
tudo bem.



janeiro 12, 2015

dos pampas

a pilha de louça suja
os bois mugindo

o pasto não é a fome
(nem o sertão é a fome)
há quem não tenha louça

nas juntas
nas esquinas, nos vincos
- em qualquer lugar
a miséria resiste

capim como lastro
boi dono do mundo

os subúrbios, as periferias
os laços intactos
a miséria persiste

verme da terra
batatas de vermes