setembro 30, 2013

terminal lapa

rua bairi rua pio onze rua tito rua aurélia
rua guaicurus rua john harrison
que matou os gaiucurus amante da senhora
titos divinos por essa e nessa nos fudeu.

paratininga afunda em chuva a primavera desfalece falácia
a lapa não solapa.

setembro 29, 2013

minha quimera

a culpa não me fez. mas persistiu lenta, pastosa, marrom e descendo pela goela pelo corpo degolando as terminações nervosas do meu corpo, sempre trêmulo, nada ereto, nada conciso, fundido com o ambiente, cor das paredes, cor das faíscas dos olhos que me olham calculadamente. os olhos me olham, os beijos no corpo, o corpo profano, feito de gorduras ranzinzas, coisas que ficam, que nunca vão. um corpo marcado, pouco dilacerado, de movimentos mecânicos, fordismo dos sentimentos. um fluxo errôneo, grosso, escorre mas nunca corre.
você me olhou e me disse e eu assenti, sobretudo o cheiro que exalava, que eu não sei, mas conhecia, reconhecia, reencontrava, mas não sabia. de pólvora ou de cinzas, e o corpo outro cheiro de almíscar, de canela, de cravo, de comida, desfruta depois abandona. os cheiros, guardei-os com carinho, com sempre estranhamento, com recuo, da intimidade grosseira, do corpo suado, do sangue lavado, vagina melada tão fácil-tão fácil-tão fácil.
a droga perdeu o gosto e o gosto do mundo, da percepção do todo, do pouco a pouco, inventou o viver de um minuto, do esquecimento perplexo, indiferença estúpida, do ser concreto em mundo. tudo esfarela em pó e pouco, tudo é nada, pedir perdão à deus e ao mundo pelas palavras rebatidas.
esse cubículo tão nosso, de memórias atravessadas, estilhaçadas, pedaços de um outro ano junto dos copos de cerveja quebrados, as risadas, mesmas, a dança para o fim do mundo. o mundo acaba em uma festa babaca, ambigua-se tudo: tudo é luta conflito e tesão. tudo aspira novilhos de lã, filhotes de cabras, ratos pequenos se esgueirando pelos escuros.
as palavras batem e se quebram nos quatro cantos, atingem todos, mas a dança da procriação continua livre, solta, dionísica. tudo é exagero, é desejo, é irrepreensível, é ímpeto. de um lado e do outro o ímpeto que não o mesmo, a maldita individualidade a gritar mais que o coro. se a dionísio oferecemos esta festa, senhorezinhos, triste deus mal interpretado choraria trovões e vinho gosto de sangue. dionísio sobrevive no corpo único não-sóbrio ensimesmado, no plano aéreo de um observador analítico, mas apolo continuará a ditar as regras a moral a civilidade possível. não-gritar-não-explodir. preferi me calar. o corpo dono, finalmente, do destino, se regrado à isso.
a racionalidade confusa e dispersa, estúpida de existir. você me pede explicações, respostas, e eu não sei. você me indaga com seus olhos e eu devolvo a mesma pergunta. prefiro de nada saber. me protejo, de muros construídos com garrafas de cerveja vazias, cacos da fora-rotina, da verdadeira, aquela, aquilo, a que referimos, vida. vida, verdade só possível quando não pronunciada ou pensada, filósofos morrem nas gargantas, permanece a alma deslavada, a não-explicação, o imbróglio caótico.
o corpo vasto e repetitivo de costas curvadas e dores no pescoço gastrite e enxaqueca, virulento de só aspirar, recebe seu inteiro sentido, a que veio fazer, neste mundo: o caso absoluto, o não-saber imutável. mas só muito ocasionalmente. a procura constante pela ocasião de dizer o que se quer, de trepar sem parecer mal educado, ferir o outro, sempre haverá um outro.
a flecha lançada qualquer flecha lançada nesta gente endemoniada fere no mínimo dez e dará prazer para somente um. a culpa que me engole e me faz portar sempre triste depreciativa e indecisa permite-me viver nos dias normais, de amarguras e auto-mutilação. do seu pico potencializada tem de desaparecer por uns instantes qualquer de qualquer-qualquer coisa. desaparece e retorna cada vez mais gigante que é anulada. senhor, livrai-me dessa culpa. dos cristãos, do maldito jesus. dai-me o tempo dilatado e incontrolável do inferno e seu existir só pelo existir, o elixir dos deuses e das paixões devastadoras, durando um segundo apenas.
e eu tão pequena-sozinha, ovelhinha covarde no cerco de arame. berro bé e nada mais. inofensiva de olhos redondos e macio algodão, a besta mora lá dentro, o porco de olhos apertados, o bizu de chifres rancorosos. quisera, você veja, minha quimera.
deixa a marca nos tampos de privadas de banheiros horríveis.

setembro 21, 2013

tempos novos romanos

perguntei por que ela queria mudar de curso. porque audiovisual é triste respondeu.

por que não sai de casa, perguntei depois de três dias inteiros sem vê-la. me vejo feia ela disse parou e completou: e é triste.

ela me disse depois que queria que para o mundo pausar bastasse o semblante triste "a boca oblíqua e dissimulada". a boca, por que não os olhos? estou cansada dos olhos, de falar deles, de crer neles a boca tem me dito mais." tinha ela bocas de ciganas, cantares de cigarras", pois sim. a boca é a vazão d'alma (ou do amálgama?) pro mundo. mas não os olhos, que tudo dizem? eu queria um pouco de, sabe, acreditar nas mentiras, nas mentiras que os outros propõe a ser. são cantos e também são inteiros.

sua boca é sempre triste, reparei. não há como retrucou alerta sorrio muito se você quer dizer que os dentes o meu sorriso não te convence de alegria genuína, não me enrole. quando eu estiver triste, avisarei.

mas passou cinco dias sem dar sinal algum de vida. você disse que avisava lhe mandei mensagens via e-mail. é também um aviso o silêncio, a prece, diga-me, estou pensando nisso, n'a prece, que é um pedido em silêncio, em absoluto silêncio em busca de ouvir a voz grave e onipotente do senhor. ficar quieto, para dar vasão à voz do senhor nos infinitos sons do mundo.

encontrei-a cinquenta anos mais tarde por acaso e lhe perguntei se ouvira em intervalos de silêncio a voz d'omem. ela balançou me a cabeça, baloiçou os beiços e murmurou é triste, mas já sabíamos.

escrito em times new roman.