perguntei por que ela queria mudar de curso. porque audiovisual é
triste respondeu.
por que não sai de casa, perguntei depois de três dias inteiros
sem vê-la. me vejo feia ela disse parou e completou: e é triste.
ela me disse depois que queria que para o mundo pausar bastasse o
semblante triste "a boca oblíqua e dissimulada". a boca, por que não
os olhos? estou cansada dos olhos, de falar deles, de crer neles a boca tem me
dito mais." tinha ela bocas de ciganas, cantares de cigarras", pois
sim. a boca é a vazão d'alma (ou do amálgama?) pro mundo. mas não os olhos, que
tudo dizem? eu queria um pouco de, sabe, acreditar nas mentiras, nas mentiras
que os outros propõe a ser. são cantos e também são inteiros.
sua boca é sempre triste, reparei. não há como retrucou alerta
sorrio muito se você quer dizer que os dentes o meu sorriso não te convence de
alegria genuína, não me enrole. quando eu estiver triste, avisarei.
mas passou cinco dias sem dar sinal algum de vida. você disse que
avisava lhe mandei mensagens via e-mail. é também um aviso o silêncio, a prece,
diga-me, estou pensando nisso, n'a prece, que é um pedido em silêncio, em
absoluto silêncio em busca de ouvir a voz grave e onipotente do senhor. ficar
quieto, para dar vasão à voz do senhor nos infinitos sons do mundo.
encontrei-a cinquenta anos mais tarde por acaso e lhe perguntei se
ouvira em intervalos de silêncio a voz d'omem. ela balançou me a cabeça,
baloiçou os beiços e murmurou é triste, mas já sabíamos.
escrito em times new roman.