janeiro 07, 2014

voluntária

tem um grupo desses voluntários para não sei o que lá zigazeando pela rua. usam camiseta iguais, alguma coisa colorida em letras garrafais. vendem chaveiros e não sei mais o quê em prol de uma vida melhor a não sei quem. são coloridos e feios, os chaveiros. a menina que os segura nervosa, não. tem as unhas pintadas de azul escuro. descasca. deve ser de bater siririca. olha para os lados, um pouco tímida. que fez a gatinha? cometeu alguma infração, foi pega com cocaína? busca a redenção. tem os cabelos cacheados. chega mole e sorri pouco. parece desconfortável. ela assente. os malditos chaveiros, as canetas sempre caem. o olhar do líder repreende. sabe falar pouco ou mal ou sabe falar só de putaria. convido-a para um café. ela me mostra exausta os chaveiros. convido-a para uma cerveja. rebate-me o olhar repreensor, aprendiz de líder. quer ser grande, moça. que rainha. um café e me compra as coisas todas. não tenho nada, mas digo que sim. proclamo sempre bêbado e babaca: sou anti-herói das caridades mesquinhas. tem outros jeitos de mudar o mundo, ela blasfema. não quer falar disso. pousou os chaveiros na mesa, descansada. pegou uma das canetas que venderia e cutuca a mesa. as unhas, enrola nos cachos. olho-a atentamente. pergunto-lhe o porquê, dá de ombros, não quer falar. diz algo sobre a felicidade. sabe que o carinho é também. ela ri. já sabe. pega um guardanapo e faz um desenho, esconde-o com a mão. deve ser um pinto com bolas bem grandes e tortas. deixa eu ver. ela sorri e nega. queria mais ouvir da sua voz. é ríspida, como se brotasse de uma garganta aberta. ex-fumante, sou. de repente, se cansa, larga o desenho para quem quiser ver, o garçom a olhos esbugalhados de horror. essas meninas desses dias. olha o relógio do lugar. o ponteiro se move e ela se levanta. preciso ir, vender, já que não comprarei nada. só uns três. tinha lhe dito. exala suor e perfume doce. menina. está tão perto agora. poderia fumar do seu hálito. bala. compro-lhe tudo mas fica, no impulso peguei em sua mão. não sua. ela sorri um jeito de último sorriso. me deixa. volta depois de quinze minutos. deixou-me em torturas. descasquei todas as partes do seu corpo, separei-as, vendi. cataloguei. guardarei. diz, vamos, fui dispensada. o mundo é um lugar mau. a gente precisa ajudar. você também. anda na frente. como imaginava, rebola, mas ainda destrambelhada. no meu bolso, os vinte chaveiros malditos e coloridos. as canetas guardei duas e doei o resto para o garçom horrorizado. ela parece gostar delas. parece que as passa no seu gozo e as vende. é simpatia. só pode trazer mais sorte para quem compra. cheiro a tampa. é verdade. não é doce. faço círculos em sua nuca com a tampa, ela não sorri. tasco-lhe um beijo grotesco. ela corresponde pouco, mas monta em cima. fala que quer ver meu pinto duro dentro dela. tem maestria das mãos. só não consegue segurar os chaveiros porque prefere os grandes. que arrebente. essa é a mais sublime das caridades, eu sussurrei. ela cospe na minha boca. lambe bem perto do olho e depois volta a se abrir. não é assim. faz-se tudo. enfio o dedo na sua vagina e descubro que não é caridade. ela já sofre intensa. gosta muito. quero comê-la com a camiseta. ela retorce a cara. levanta. não cederá, tampouco cuida. é feita de nuvem. choro do escroto na cama. ainda ouço os passos lentos pelo corredor. bato uma punheta. ela pinga remédios nos olhos das crianças e passa as mãos pelos corpos dos meninos. terei que acender um maldito cigarro. entrarei para um grupo de voluntários.