fevereiro 25, 2009

ratos e caramujos

você se enrola toda dentro de você, você quer entrar dentro do próprio corpo, um caramujo que não quer mesmo esticar-se com seu corpo mole para ver o que a vida reservou-lhe. perderá o orvalho das manhãs entre as folhas e o céu tão escuro que os olhos preferirão fechar-se em delírio. que destino será o caminho da somente sobrevivência? teu medo é tão maior que te compararia à ratos, esquadrinhando pelos esgotos imundos e pelos porões escuros. merecerá estar tão fundo que só escutarão suas patas tintilhando irritantemente dentro dos outros tímpanos sedentos. viverias dentro daquela caverna, a fatídica platoniona, enrolada por cobertores porque o calor te dá certa impressão de sexo que te enoja. larga desse medo antes que seja tarde, sai dessa toca, seus olhos surpresos precisarão sorver o que há de pior e cruel por aí. juro que terão. a dor é o único caminho plausível, e sabes bem qual é a melhor qualidade de um bom personagem, inerente à capacidade de fazer doer e sentir dor. você não seria a minha personagem minha, já imaginou qual é o nível de rejeição entra a escritora homônima e o seu eu interno? há dentro de você algo que possa revirar e enlouquecer, mas você pára, a sua repressão é sempre do tamanho do mundo. você quer que eu seja capaz de descrever quando seus cabelos estão caídos descontraídamente e de como o seu sutiã bege está à vista por detrás da sua blusa colorida? você quer que eu conte à todos de quantas pintas pintam seu corpo branco, aquelas pequenas próximas dos seios que talvez ninguém tenha reparado além de você em algum momento insano de corpo e espelho? eu não seria capaz de descrever você a você mesma, pois nem a isso lhe dá algum prazer ou vício, exaltar-se trará um céu de tristezas e angústias inexplicáveis. você tem um formato de caracol, você se encaracola, e faz de toda pequenez uma grande insensatez fatídica e drama sem precedentes. prefere roer as unhas e imaginar-se que entreter seu corpo esguio metade lesma metade rato sujo em alguma lamaceira sem sentido. você me enoja, e tudo isso me derruba, porque enojar-se de si mesmo é como fechar-se, ignorar-se, inexistir. já inexistes nesse mundo, inexistirá em poucos segundos para você mesma... se não dares de si um pouco mais. dentro de você, sua alma ainda é grande, ainda ambicia e ainda tem-se a perder entre as esquinas moribundas de todo o azul que pintaste o mundo. é hora de nadar em novas águas, afundar-se em alguma imensidão sem medo de fechar os olhos e parar de respirar. poderás algum dia considerar-se digna de ser escrita pelas próprias mãos muito pretensiosas e nem tanto talentosas? acredito neste dia como espero um dia acreditar em Deus. deixa que carregues... deixa que livras... ratinha de antenas que espreita pelo buraco do próprio sexo.