maio 07, 2009

sobre olhos de hoje.

vim aqui para que não me esqueça dos olhos que hoje me encararam. hoje, dia comum de rotina desgastante, que deu tudo errado. tem dias que a alma fica vulnerável, ou são os olhares outros que me arrebatam feito flechas.
1. flecha foi, pensando bem aqui com meus botões, teu olhar úmido. ficou a me olhar, enquanto eu gesticulava e chorava. tinha olheiras debaixo deles, mas isso é comum (mãe, isso é comum) o que me fez querer ir embora, como eu o fiz (você viu que eu fui, mãe), foi o brilho que deles emanavam. brilho de água, salgada e triste. você não tinha resposta, mas nunca pede desculpa. seus olhos arregalados, cheio de umidade angustiada, é que disseram por você o que eu não pude codificar. desculpas mudas, carregadas de ressentimento de outrora que não podem ser expostos (mãe, como deve ser difícil ser mãe.)
2. o teu hoje se diferenciava. não sei se por falta de aparatos que sempre leva. eram fundos. tive medo de olhá-los e esse medo me fez o desejo de aproximar-se. queria olhar, lá no fundo e ver o que se escondia ante o preto. mas não pude, se não segundos rápidos. me fez lembrar uma série de imagens rápidas. você sabe aquele medo que dá desejo, ou o desejo que dá medo? dá uma coisa danada na alma na gente. um nó. a gente sabe que gosta, e fica estancado no meio do caminho, com medo de chegar na água. não que a água pareça perigosa. talvez, um pouco desconhecida. mas ainda assim, atraente. tomara você não ter percebido.
3. já você, tem dias que fica assim, com os olhos tristes. você inteira acompanha essa tristeza, seu corpo quente, sua tez distante. eu procurava entender toda essa tristeza, feito exu ou pomba-gira que tomava conta de ti, eu até entendia. meu sentimento ultrapassou minha razão. já não entendo. quero dos seus olhos o máximo que puderem me dar. escute a frase que lhe dirijo: não pareço egoísta? me sinto egoísta até o âmago. mas é que o âmago nada sente desta culpa humana, destes conceitos que a gente cria. eu queria seus olhos apertados e alegres, a me olhar, e quando não os tive, não queria mais olhá-los. sabe que sentimento grita, infantil, dentro de mim? seja o quanto puder o bom dos seus olhos, para compensar quando não tiver. eu não deveria reproduzir tais coisas. mas há tanta coisa guardada dentro de mim.... há tanto mostro aqui dentro, que é preciso um pouco, soltá-los, para que não tomem conta de mim totalmente. ignore estes meus monstros. teus olhos tem a liberdade de serem tristes, e os meus, nesses dias, não quererão com os seus encontrar. (e não será desperdício, então, cale a boca, meu demônio louco).
4. não reconheci mais você em seu olhar. sempre teve uns olhos grandes, vivos, irriquietos. mas depois de tudo aquilo, eu perdi a liberdade de me ser com você. e por isso, quando tentei olhar seus olhos, não vi nada. parecia que nunca os tinha visto daquela maneira. talvez eu tenha me afastado de você, sem participar da sua evolução. e agora, como cachorro com o rabo entre as pernas, volto a querer te olhar como antes. você mesmo me disse, nada será como antes. mas sou teimosa. talvez meu egoísmo me engula de novo, e tudo seja justificativa só porque você parou de me admirar. isso é visível. e eu não sei mais cadê você. seus olhos são, dentro de mim, outros. não sei mais o jeito certo de olhá-los ou de conseguir o mais profundo da sua alma, o melhor do seu sorriso. nossos olhos parecem distanciados um país inteiro um do outro. tentei procurá-los enquanto tive perto de você, e só vi o que lhe é aparente. aparente isso, que não me parece mais você. eu sei que isso você percebeu. alguma coisa entre nós se partiu. e eu me senti profundamente machucada. como se... irreversível. não consiguirei completar meus pensamentos.
5. você teve uns olhos distantes hoje. seus olhos são muito do parecidos com os meus. quando se recolhe dentro de si, cala-se, e feito caramujo, esconde-se, e ninguém tira o real dos seus olhos. houveram tempos que nossas sintonias, de tanta identificação, eram grandes. e eu sabia como tirar de você sem te perguntar. não sei mais te codificar. não sei mais te sentir. e nunca fui, tampouco, de perguntar. continuo esperando que você venha me dizer. você nunca vai dizer, porque é igual a mim. procurei seus olhos desamparados... mas não ganhei nenhuma resposta.
(4 e 5 me perdoem por tudo. não sei o que faço, não sei o que fiz)
6. seus olhos brincaram comigo, pela primeira vez no dia, cheio de intenções. olhos que alugam cantos e pedaços de corpo, se comunicam em sintonias ínfimas, se desviam, alegando completa indifernça. posso muito estar enganada, e minha imaginação é uma nascente fértil para todo tipo de romantização. perdoe-me escrever sobre isto aqui.
7. por fim, o seu.
seu olhar que me fez pensar sobre todos os outros que hoje percebi. serei sincera, pois você nunca lerá nada, você disse bomdescanso, tal coisa tão simples direta e sem nenhum significado em especial. seu olhar foi cheio de significado. parecia querer me passar uma mensagem. talvez você tenha algo com o meu pessimismo, talvez quisesse dizer para eu realmente tentar parar de ver tudo desse jeito, que tende sempre para o pior. eu não sei. seu olhar não teve obstáculos, atingiu direto na minha alma. se encheu por toda ela, sem entender quase nada. eu quis tentar entender, mas seu olhar me pareceu passar qualquer coisa que não fosse material ou pronunciável. à nível de espírito. de coração. olhares que lêem alma, que advertem. você se manteve, olhos fixos e negros, dois, e eu senti toda essa intensidade. poderia dizer que fosse pedagógico. não posso fugir da raia de que seja educativo, uma mensagem, como dantes disse. você me deixou alarmada, desconfiada. minha alma toda se contorceu em torno de tantos olhares. não sei a que ponto isto tanto me afeta, mas hoje tudo parecia motivo.
talvez eu esteja me torando cada vez mais transparente.
ou consiga melhor enxergar os outros.

de tais olhares me despeço e fecho os meus. já me cansei de tanto olhar, tanta melancolia, de tanta alma e corpo envolvido. não sei a que ponto sou fictítica dentro de mim mesma, ou se a verdade é realmente impressa por estas retinas negras (ah! jamais rejeites olhos castanhos, negros, escuros; olhos fundos e largos).
sei que me sinto exausta, e toda furada, furada por olhares que não sei entender.