agosto 23, 2009

mas é que - ai!

mas é que - ai! - onde é que a gente quer chegar? tantos contratos assinados a léu. tenho mania de promover acordos comigo mesma, de estabelecer metas mal vencidas. tenho mania de fazer comprações absurdas e fazer ligações ininteligíveis. há de se tentar de explicar o inexplicável por vias tortas. por onde é que anda a minha vida? desperdicei dezenove anos ou tudo isso tem algo a me dizer? o que é que o silêncio desta casa vai me ensinar?
e as paredes rangem, e as janelas se lamentam, e as portas chorosas, abrem e fecham, à sua maneira. e os móveis, estáticos, sentem a falta dos passos, dos berros, das palavras. e se há aqui seres humanos há palavras jogadas ao ar - não adianta ser apenas pensadas. quando fico sozinha, já passo a falar comigo mesma, com os espaços de ar que me acompanham, com a sombra que me alenta. é que não falar implica um quê de loucura, de desvairo, de gente que ermita, funda, se afunda, um pouco de quê de perturbada. e falar sozinha nos parece mais conveniente do que deixar o silêncio reinar. esse rei gordo e espaçoso, um tanto orgulhoso, que é o silêncio, se deixa entrar pela porta da nossa casa, invadir nossa alma pelas narinas, fazer zunir o o seu assombro por nossos ouvidos, toma conta de tudo. e de silêncio basta a morte que nos é certa. a vida é som, e um tanto de cor, e um tanto de diálago. desculpe-me Charles Chaplin, que aprendeu a odiar com todas as forças, o som que poderia ter seus filmes, os dialágos que poderiam acabar com sua simplicidade sincera e sginificativa. desculpe-me senhor, mas não concordo com isso. cenas extensas sem dialágos, se não são explicativas pela imagem, me dão sono. o silêncio deve ser usado com agudez, com sutileza. no final de uma reticência, no escorrer de uma lágrima, na pausa de um sorriso desdentado. tirar o som do mundo por um instante - e os carros se calam, e os pássaros se emudecem, e toda gente pára, e o som sai, e a alma sai. seria bonito assim, o silêncio. mas não se durasse uma eternidade, pois assim, saíremos todos nós, loucos. enterraríamos nossas raízes, nossos pés inúteis, no chão acimentado e permaneceríamos a olhar-nos tentando traduzir o que é que se passa por toda essa falta de...
mas que? por que disserto sobre o silêncio? porque aqui dentro o silêncio se demora demais, é preciso expulsá-lo, é preciso que eu me complete de outra coisa, noutra coisa, me mova. um minuto sozinha é o suficiente para me relembrar a dor que trago sobre os ombros, e por detrás dos olhos castanhos muito dos escuros. mas quando passa a vida - e a vida, assim, é leve, fina, colorida - o sorriso se espalha, a dor se acomoda em lugares que não se acham, entre as vértebras que se dobram, no espaço entre os dentes, por debaixo das unhas, se enrolam nos fios dos cabelos. e a dor assim, é quase inperceptível, quase silenciosa. dá para se acreditar que ela inexiste.
e então toma-se todo o corpo, inerte, que quer expulsar de si aquele silêncio aterrador, e quando quer chorar não quer, e não sabe se as lágrimas são boas ou não. não sabe se os risos são bons ou não. não sabe se isto que leva nas suas concepções e idéias, esta coisa de vida, esta coisa de memória, não sabe se isto é bom, não sabe se isto lhe valerá.

não sei que idéias me tomam agora, que coisa que é essa, tenho vontade de escrever, mas tenho apenas de escrever sobre mim mesma, como necessidade de escape, de fazer surgir som dentro de mim. mas é que... é que... não sei o que é que é que seria que é. é que ai...
deixa pra lá.