abril 25, 2010

hoje tenho apenas uma pedra no meu peito

dentro da caixa toráxica nada bate. não grita, não esperneia, não luta. parado aqui, dentro e fundo, lá no fundo, que não sei onde mais. parado, intacto, intocável. uma pedra, talvez, dura, cravada, ilhada. pedra só, latente, aqui aonde? não mais vive, não mais pula, não mais engasga. a garganta corre limpa, sem nó, sem dó. a casca, uma lasca, um nada. o cabelo nem mais se despenteia, o olho não mais chora, e a pélvis não mais molha. é casca, é lasca, é corpo. falta-me alma. falta-me arma. falta-me sua voz. seu silêncio em mim petrifica. sem palavra, você vai, volta, lota, não olha, vem, passa, me passa, me amassa, sem palavra, você vem, você vai, se esvai. e aqui dentro não encontro palavra: o seu propósito torna-se minha cor preferida. cor que fere, cinza, cinzento, branco, de nada, calada. obrigada.

hoje tenho apenas uma pedra no meu peito,
e exijo respeito,
não sou mais um sonhador,
chego a mudar de calçada
quando aparece uma flor,
e dou risada do grande amor.


mentira.