setembro 09, 2010

a minha menina

esse cara tá olhando minha menina a noite toda. de um jeito assim, descarado. como é que pode o sujeito olhar a menina dos outros desse jeito? eu claramente estava namorando com ela. ou... talvez não tão claramente. não sei realmente quantos beijos eu dei nela, nessa noite. ou nas nossas noites. de alguma maneira, casais acomodados terminam por acomodar os beijos. sobram-nos os selinhos. acaba que... o selinho, esta forma minimalista de começar uma relação tenha como fim a intimidade máxima de um casal. você sela em quem é intimo. e o que é selar? fechar, então? e se selar fosse celar, e se eu estivesse em cima dela, como a uma cela, e se eu estivesse cavalgando esta égua de longos cabelos cacheados, e se eu estivesse cavalgando por tanto tempo que eu não sentisse mais a cela, acomodado com o sentar sem nem dar conta do bom lombo que me sento?
porque do jeito que ele a olha, me parece que ela é um bom lombo. ele espichava aqueles olhos dele, uns olhos de uns cílios grandes e alongados, e não é que eu tinha certa implicancia com cílios grandes? sempre achei que fosse de gente que quer se meter em tudo, chegar antes que o próprio olho, que o próprio corpo. e não é incomodo essas cócegas que dá na bochecha da gente? se é. e aí, eu já não gostei do cara. mas parei para ver como ele reagia pela noite que se seguia.
ia percorrendo todo o corpo dela, passava como de leve pelo busto exposto, parecia saber que ali, perto do mamilo, existia uma pinta pequena, preta, bonita, que eu gostava de acariciar, parecia saber, porque olhava diretamenta para ela, não é que ele olhasse para os peitos da minha namorada, mas é que olhava direto na nossa intimidade, e isso me parecia pior. se concentrava bastante no sorriso dela, mas o sorriso dela era... era bonito? isso eu já não me lembrava. se para conquistá-la precisei dizer que aquele sorriso era bonito, tinham se perdido as palavras nos vãos da rotina. eram dentes brancos amontados delineados por lábios nem tão grossos nem tão finos. na real, não tinham nada de especial. nem mesmo os olhos, e ele se detinha pelos olhos também, eram pretos, arredondados, com cílios medianos pintados a rímel, olhos tão comuns, tão reais. eu não sei bem desse cara, veja bem, mas é que eu tenho apego ao surreal, tenho apego a grandes olhos azuis anis verdes, estatelados, tortos, gosto até de olhos estrábicos, incomuns, gosto de pensar em cortar estes olhos com navalhas, de beijar dentro dos olhos, de entrar dentro do muco, de sentar-me na íris dilatada. já não sabia se a íris da minha namorada dilatava-se. achava até olhos um pouco mortos, então, por que diabos ele se entretinha por aqueles olhos?
olhei um pouco mais minha namorada tentando descobrir porque tanta atração. é que devia haver um motivo. talvez ela o tenha agarrado no banheiro sujo, tentando realizar um feitiche de um sonho sujo, sabe-se lá, porque eu nunca quis transar com ela nesses banheiros, mesmo no começo, eu fiz de tudo para tudo ser limpo, eu fiz de tudo para tudo ser bonito e certo, de um jeito que eu gosto que seja. talvez ela o tenha agarrado, e ele tenha gostado, e por isso ele a olha assim. e é por isso que ele olha demais para a vagina dela, porque se lembra de quando colocou os dedos lá, porque minha menina gosta muito de ser masturbada, ela pede toda vez, feito menina de quinze anos, e viu que era quente, e que era molhado, e que era, da maneira dela, sujo. e ele com toda aquela barba e aquela pinta de bicho grilo, me parecia gostar dessa sujeira, dessa pronografia, desses feitiches rápidos. e por isso que ele a come com os olhos, porque quer comê-la novamente. mas por que querer comer minha menina? olhei novamente para ela, dançando pateticamente, levemente bêbada, como sempre em toda noite de convívio social que nos propusemos a ter para não cairmos em tédio e cansaço. ela mal sabia rebolar, ela mal sabia ter molejo, malemolência, talvez ela mal sabia fazer sexo. saber fazer ela fazia, porque qualquer um faz, é estar lá, estar aberta e deixar se entrar, e sabia me excitar, porque também, sou facilmente excitável, todo homem na minha idade é, é uma questão quase biológica, um pouco deturpada por tudo isso que se chama amor e se chama tesão, mas no fim é tudo feito para a pura procriação. e minha namorada tinha um jeito de fazer sexo que era um pouco procriação, e todos esses feitiches sujos necessitam de certa malícia, necessitam de certa safadeza assim, e para que se dure o desejo no cara, é preciso que seja ótimo, que seja fantástico, que seja inigualável. minha menina com toda certeza não era inigualável. eu mesmo poderia provar. então, não era bem isso. não era bem um encontro sujo. acho mesmo que minha menina não teria coragem de promover tal encontro sujo. ela acabou de me olhar com seus olhos um pouco caídos, um pouco mortos, mais mortos por estarem bêbados e de me dar um selinho íntimo, um pouco bêbado também, que acabou sendo no canto da boca, mais na pele que na boca, e eu acho mesmo que ela quer ficar do meu lado, que ela não iria assim, com qualquer um na minha frente, e a boca dela tá um pouco rachada também, áspera não sei. talvez ela me trairia, mas não aqui, agora. não com esse jeito um pouco apaixonado que ela carrega. e se ele ainda estivesse atraído pelo fato de ela ser apaixonante por muito se apaixonar, eu entenderia. ela tem um jeito manso de gostar dos outros, não é feita de explosões, é cordial e sensível, e se eu pedir para que ela se retire, ela vai, mas é como um bibelô, um ursinho de pelúcia na estante do meu quarto, eu não pediria para ela ir embora, eu até que gosto desse amor sereno, dormir de conchinha, café da manhã com direito a beijo na bochecha. é um amor que é só. não é bem lá um jeito de se gostar que a gente gosta de ver nos outros, desses sacrifícios amorosos, sacrilégios profanos, gente que se mata, gente que mata o outro, morre de ciúme, morre de amor, faz sexo loucamente e no dia seguinte tem crise. ela mal tem crise. é serena, um pouco bonita, simples. não vejo porque alguém gostar dela. não vejo porque alguém a olharia tanto assim. eu vou perguntar pra ele, eu vou chegar intimando, vou quebrar a garrafa e apontar no pescoço dele e dizer por que oce tá encarando minha mina? mentira, assim não vou, tampouco gosto de baixaria, vou chama-lo num canto, vou ser sincero, mas só não posso deixar que ele coma minha namorada com os olhos, e com os cílios intrometidos, e também, o que é que os outros vão pensar, que eu deixo que todo mundo olhe assim desse jeito assim para a minha namorada? e se ele for gente boa, vai que ele é, eu vou perguntar porquê, e se ele disser quero comer sua mina, aí sim vai ter briga, ou se ele disser eu comi a sua mina, aí sim... aí sim... eu mato os dois de uma vez e deixo um nu em cima do outro, que é pra matar a vontade desse amor. e num banheiro sujo mesmo, que é pra fazer vontade deles, a vontade suja dessa gente hipócrita. mal sei o que estou falando, estou um pouco bêbado também, escuta cara, que caralho que você não pára de olhar pra minha namorada?