agosto 07, 2011

língua nos teus

minha língua nos teus dentes, teus afiados dentes, meus. minha língua a desmanchar-se (em vermelho-vinho-vivo) desmembrada carinhosamente por teus. e em contraponto com todo o macio da boca (seus lábios me matam) e a gengiva salgada, sangrada, e a língua macia, desenvolta, a desenrolar em círculos, mas mais do que isso: teus, dentes. duros, pontiagudos, resistentes, em riste. ali por eternidades de vícios. teus. meus, dentes. ósseos, amarelados, calcificados. a tudo superam e a tudo trituram: ali, sem pensarem em ceder ou desistir, ali, sem bambolearem ou se desmancharem, ali, existentes, ali, enraizados, eternos. quero lamber tal eternidade de razão, tal tão concreta existência de persistir, tal coragem de permanecer. quero nos mínimos detalhes e orifícios esconder minha - vadia, lânguida - língua, descobrir, desvanecer, puxar do sulco ácido dos seus dentes críticos. e dos meus, nos meus, me espetar, me ferir e vermelho, e dolorido, doer. para então, estar, fazer, ceder à quietude daquilo que é, que está em mim, prisioneiro de, ficar. nos teus, me deleitar em fazer dos permanentes-dentes-de-leite. de leite, me esfalecer, nos teus. me encontrar, me encaixar e ali - ficar, língua nos teus dentes, ser, por tanto e em tanto, sofrer, quieta, e sempre, sentir. não mais sorrir, teus dentes, aqui, dentro de mim, e só, usá-los para mim, para me deliciar, para me provar da permanência do mundo como mundo, dente como dente, isso e isso. e então, dormir, com a língua dentro dos teus, dentes, dentro dali onde não se vê quando se sorri, dentro, do preto, do branco, do vermelho de dentro de um qualquer dente - o teu, que é meu. minha língua dentro de dentro dos teus, meus dentes.