julho 23, 2012

líbano

moço, não sei direito, não posso saber, no meio dessa fumaça, dessa, dessa lesma. no meio dessa mesa se derretendo, partindo ao mesmo, no meio de tudo isso, um você, atrás de tudo isso, você, com seus olhos curtos, olhos de longo alcance, mas olhos curtos, podia ver: olhos curtos perto tão longe dos meus olhos tão longos, de dois em dois minutos, os olhos: um estilhaço na fumaça, na coisa, na lesma desse ar, pútrido, petrificada, petroleorado. no meio de tudo isso a conversa ia longe ia divagando nos emirados arabes unidos estados vencidos, o líquido negro se infiltrando na terra roxa, e nossa terra que era vermelha e meus pés descalços no seu piso de taco, meus pés querendo alcançar o linho das suas meias, ovelhas das montanhas do himalaia comigo fizeram béé: também elas se excitam também elas se excitam. nesse felpudo embalando a noite toda com aquilo que a noite é feita, uns pedaços de escuro, um certo ar crescente ou decadente - que dor - de possibilidades, errante, cambaleante pelos móveis da sala, é difícil andar com esse nível etílico mas o corpo estupido insiste, insiste, insiste, e passar por você passar por você é morte dolorosa formigamento das extremidades alucicação verde limão o petróleo todo virando sangue de gente lá no líbano
aqui no líbano aqui dentro do meu líbano dentro do meu líbano mundos desabam e você diz fica dizendo displicentemente deste líbano nosso líbano olhe lá olhe bem aqui dentro neste líbano meu você não pode querer saber você devia querer saber: se eu te encostar devagarinho minha orelha no seu peito, minha orelha gelada, o dorso da minha mão morninho, dentro da sua, da sua, você ia ouvir se estivesse um pouco mais perto tiroteio gente correndo pisando escorregando no sangue todo splash aqui dentro faz splash eu te diria com a língua ardente o biquinho de algum jeito sexy monroe mas meu amor: eu não sei só sei o que me acontece de grotesco e grous uns zumbis zumbidos zzz eu não sei ser sexy meu amor: mas é real aqui dentro é como se vai e vem viesse uma lombriga toda grande toda grande raspando em tudo a garganta a pélvis o estômago raspando tudo com sua superfície de viscosidades infindas uma uma uma uma
loucura, meu bem, loucura, mas continuo a bebericar socialmente meu etílico a fazer o que se deve ser feito, deitando no tapete felpudo aproveitando-me das mais caras sensações supérfluas que este mundo pode me dar: e de dentro do escuro sempre visível alguma possibilidade mas que. o resto são condecorações vazias de menininha esgotada, de menininha toda meninada, correndo suja pela rua com os cachorros do vizinho latindo como eles e babando, querendo roer osso, o resto não nos importa, se explodem lá fora poços que deixam mutiladas deixam mutilados deixou-me mutilada por instante como sem me cortassem o 
mas nesse império você é rei desses olhos curtos nesse império você manda e desmanda e enquanto fuma charutos lamentando a perda das pernas das crianças compra e descompra e derrama todo negro na terra branca, na terra louvada, terra virgem, terra só, terra por si: toda manchada e toda sua toda determinada, fecha os olhos e dorme, dorme porque pode, quem poderá se
se aqui dentro das minhas pálpebras agitam-se guerras sem fim e soam as metralhadores e toques de recolher que mal me recolho porque dentro de mim: como posso fugir se dentro de mim se dentro de mim aciono a bomba h bomba de gás lacrimogênio a bomba que me faz rir desdentada até que o absurdo do mundo torne-se um pouco menos um pouco mais um pouco menos essa lombriga esse pênis até a garganta essa dor esburacada esvaziada (estive esvaziada de mim mesma)
e dentro de mim matam e morrem mundos e chegam a você o eco resquício reverberação injusta um pouco qualquer fagulha do meu olhar longo de dois em dois minutos um estilhaço uma bala disparatada no meio da sala cortando a fumaça que não vem da arma vem da nossa humana barbárie vossa vontade egoísta este
modo escroto de tocar a vida como tocam os cachorros com pedaços de pau empurrando-os pela bunda ou serão os cavalos capengas ou os pôneis de passeio eu
toda guerra e toda amor: um pônei de passeio dando voltas inúteis nesta praça de bandeirolas olhos cheio de piedade, pergunto: suba no meu lombo, a la vonte, senhor, a la vonte