dezembro 09, 2012

manifesto ao espectador

esse é um manifesto a todo espectador. a todo e qualquer espectador, mas principalmente ao espectador elitista, cineasta ou cinéfilo, estudioso, chato por natureza. ao espectador tão gordo que ocupa toda uma fileira de cadeiras com seus insultos seus bufos sua indignação estúpida. ao espectador que se digna a sentir ódio de filme e passa diante da vida como se fosse flor. o espectador mimado, que se sente sempre acima, rei do pedaço, o espectador que recebe o filme e diz: vem, me agrada, vem me faz um carinho, me masturba, vem eu eu preciso gozar. ao espectador que diz que perdeu duas horas da sua vida, tão completa e cheia de loucuras. o espectador filho mimado que acha que todo filme, todo filme, todo filme, foi feito para agradá-lo. acha que todo filme todo filme todo filme tem de passar por seu crivo seu julgamento seu filtro. todo filme, diz ele, tem de me fazer emergir, tem de me contar uma história de vida, e quando não, tem que me dar paisagens bonitas, e quando não, alguma música que eu goste. todo filme e santo filme todo filme desse mundo só para mim. para passar pelos meus olhos, minha boca e me sentir gozado e cheio de mim. todo filme que diga respeito somente a mim. porque o mundo sou eu. ao espectador estúpido que reproduz a mesma lógica do mundo, mesmo se se diz contrário, individualizado e solitário, que exige do cinema ser sempre indústria, sempre impecável, ao espectador que não deseja ver, só julgar, que deseja só falar sobre e emitir sua opinião tão poderosa, devastadora. ao espectador que fala tanta merda que se iguala à suposta merda de filme que acabou de ver. ao espectador centro do mundo e das atenções, que não admite rebarba, outro público, outro tipo, que não admite outros mundos, e que passa adiante sem vontade de ver e só estraga. e finalmente ao espectador estúpido classe média que diz que o cinema nacional anda às pampas, porque é quase-hollywood. ao espectador classe média que não gosta da própria língua falada. e que bate o pé exige um filme lindo de morrer se não existe dinheiro para isso. NÃO EXISTE DINHEIRO PARA ISSO. e se você viu um ou outro filme lindo engole o fato de que metade do dinheiro é público e a outra metade, vendeu-se a alma ao diabo, filme podado pela ditadura da informação. engole seus sapos. ao espectador pequeno mas mimado exigindo isso e aquilo sem nem acabar de ver a primeira sequência. UM FIM A ESTA INSISTÊNCIA PELA  CRIAÇÃO DE ESPECTADORES MIMADOS E IRRITANTES. o cinema nunca será outro, se não esse. o cinema nunca será tão bom, se o outro tem muito mais dinheiro. se você insistir nesse parâmetro de bom. se você continuar excludente e primeiro-mundista. se você continuar um babaca que perpetua esse cinema de elite babaca.