maio 07, 2013

dos olhos, dos pintos

homem, pobre do homem, eu que te desejei, e te olhei, e te despi. pobre do homem, pensei eu, que não tem os seios à vista, a pele dourando na revista. que não é comido cobiçado pelos olhos, de uma paixão devastadora, do homem que não recebe declarações eróticas de amor, do homem que não se ouviu falar dos pintos grossos ou pintos tímidos da cabeça assim e assado se a mulher centro de todas as atenções recebeu: olhar pincel escritos estrelas. se no pedestal e ludibriada e lúgubre e lubridificada a mulher não se lambuza se chamusca nessa toda sensualidade colocada, se de desejos e inventários se faz musa magnânima para se tornar nada, escorraçada, latindo e de nada sofrer a desventura o desespero a ardência de querer ser olhada para desejar de tamanhos imensos, mas o homem. pobre do homem que não sabe da virilidade da paixão do desespero de não ser por outrem desejado e assim perder pouco a pouco o poder da sua ejaculação: sempre infinita mas finita sempre se faz se estimulada. então te desejei, te despi, e sentei atrás de você para que não me visse mas eu visse a você e pudesse admirar a sua corpulência os seus pêlos o seu cheiro seu escarro toda a anti-higiene que me estralava a língua nos céus da boca e eu quis te dizer: pênis bonito sim senhor e pernas bonitas e veja só você modelo másculo estampado nas capas de tudo veja você objeto de desejo de um mundo você enquanto gênero, mas no fundo, indivíduo. indivíduo. quis te comer para você saber como é, se pobre do homem que não tem, em si, a maior desgraça de uma mulher, do desejo enfurecido, violência cotidiana, do desejar em infinitos e de uma saudade que se instaura nas mais velhas às mais feias: uma saudade de ser desejado ainda que nunca. quisera eu que pudesse sentir a nostalgia que rasga a garganta de ser desejado por todos outros, mas eu não pude o bastante, se não com meu olhar e minhas mãos fazer te sentir desejado em seu corpo monstruoso, gorduroso, totem dos valores, recheio de odores, das imperfeições maníacas e neuroses descaradas, das recordações infantis, dos medos púberes. pobre do homem que não sabe, e quando é, não se sabe, desejado, em instância máxima, corpo e alma sendo alma nada mais que o grosso do corpo, a carne e a cor dos olhos, o tom da voz grave que faz tremer os clitóris desavisados, que como pintos se eriçam também se eriçam também se eriçam. pobre do homem que não sabe sentir a inveja e o deleite que não entende o tesão da auto manipulação que nunca tira a roupa devagar fazendo mistério jocoso e doce de um jeito estúpido. pobre do homem que sempre tira a roupa da outra, que sempre olha a outra, que no alto do estado, em rei, deseja e não se faz ligar por ser imensamente desejado ou repugnado, que, em rei, não se importa se não a colecionar súditas vê-las dançar serem picadas por suas cobras treinadas, em rei, se faz imponente e por isso impotente, grande mas tedioso, procurando no desejar, sem saber a doçura do desejado, da passividade, de ser comido de ser comido de ser comido de todas as maneiras, dos olhos, dos pintos.