janeiro 13, 2010

escreva.

meus olhos já doem de olhar para a tela luminosa do computador. é que preciso achar algo para escrever, mas não há nada, tudo repete-se, e aqui dentro, há um vazio criativo. um hiato. mas é que é preciso escrever, é preciso navegar, entende? por estes mares já muito navegados. algo dentro de mim grita, esperneia, uma criança mimada que crio há muito tempo, e diz: vai, escreve. e eu lhe digo: mas o quê? e ela retoma: escreve. sem argumentos, sem justificativas. ficaria a pensar, quem é que mete uma criança dessas dentro de si mesmo? uma criança de perda de tempo e mimos inúteis. a gente a cria como garantia, eu mesmo respondo. em certo ponto, as metas parecem confortáveis, como num ano novo, e é preciso garantir o futuro dos seus sonhos, é preciso garantir a loucura que foge do real... e foi então que decidi: escreva. sem mais motivos, e aí já se cria a criança não-esperada.
e a partir disto, as metas internas se intensificam. alimenta-se, a criança cresce, gorda, dentro do seu ventre, da sua cabeça, daqui a pouco, ela é sua alma. até poderia ser bom abandona-la, numa lata de lixo, porque nem tantas pessoas ligam para esse tipo de criança, se foi esquartejada ou se foi despejada, só sentirão os outros se você foi prestigiado por gastar palavras no papel. e como isto não é meu caso, poderia sim... deixá-la à deriva. ela morreria, sem mais. e eu seguiria a minha vida.
mas já não é mais possível. não sei se é cordão umbilical, não sei se é ligação cósmica energética, talvez um contrato de adoção irrevogável, hein? mas ela está ali e é impossível despejá-la.
por isso é preciso escrever, sobre qualquer coisa. sobre arco-íris no fim da tarde, sobre a prostituta que chora na esquina. nem que seja metalinguagem, poema curto, frase de efeito, história longa e cansativa.
é preciso dispor as palavras, uma a uma, feito arquiteto, engenheiro, matemático. é preciso doar sua alma, a parte que cabe à criança enorme, que chega a ser maior que você, que atinge todo o mundo e quer a tudo engolir e traduzir nestes curiosos sinais gráficos.
é preciso escrever... só isso basta. mesmo a mim, tão pequena assim, neste mundo literário, neste mundo de blogs, basta para que seja cumprida uma meta de vida, uma meta do dia, certo entendimento de si mesmo.
por isso, tenho aqui uma meta a registrar, para dois mil e dez e para o resto:

escreva.