maio 08, 2011

como sobreviver às faltas

como sobreviver às faltas, como repirar concomitante com a ausência, como? como é que meus pés andam e meu coração ainda bate e meu sangue corre lépido se eu aqui me sinto tão morta por dentro, se você não está aqui para me fazer sentir viver. como é que eu tenho cor na face, como é que meus olhos percustam rápidos o mundo e param reflexivos sobre sei lá eu o quê se o motivo do que vejo não é você? como é que eu sinto frio, puxo o cobertor e fecho os olhos para dormir, se dormir, tanto faz, se frio ou calor, tanto faz, como é que eu ainda posso sentir, como é que eu ainda posso arrepiar, se não for você? e por que é que eu acordo, por que não um sono eterno, por que não sonhos fantásticos, porque minhas pálpebras abrem, obrigadas, e a mente sã começa a funcionar - racionalmente - se minha alma entristece, pequena, sem motivo para se livrar. como é e por que é que os dias passam tão rápidos, e o tempo se distancia do tempo que você esteve comigo, e já são quilômetros de minutos, e eu não sei o que fazer para parar no meio da estrada e impedir que você fique tão distante que eu não consiga não mais observar a sua sombra, um pouco de você, o seu resto desfocado, o seu riso entrecortado. como é que faz para parar essa gigantesca máquina do tempo como é que faz para congelar minha memória, meu eu, meu corpo, como é que faz para voltar ao tempo, correr livre por essa estrada, sem amarra, como é que eu me livro disso que é terra que é chão que é fio que é fixo, estável, real, como é? como é que eu flutuo tão leve quanto você, me deixo ser brisa, como é que eu seja só sopro e possa te encontrar e te ter no hálito do seu riso, como é que eu volto ao seu entorno e fico, como é que eu páro essa esteira mecânica que me leva sempre para frente e para frente e para frente. eu tenho medo do que há pela frente, tenho medo de correr assim, pra esse horizonte sem você, tenho medo de te deixar muito longe, tenho medo de me esquecer, me perder, perder a cor dos seus olhos que já é tão minha, que de azul eu me torne, talvez, violeta, e então, violeta, eu não saiba quem mais sou eu que lugar é este, afinal? por que eu não paro, por que eu não estagno, por que eu não estou no vazio, por que há de continuar por entre tantos prédios casas lixo, rua asfalto cinza, verde árvore, flor, e meus pés não param nunca e meu pulmão enche e volta e meu estômago rumina e eu continuo a beber água a comer comida a sobreviver. como é, como foi, por que assim, como sobreviver à morte, como sobreviver em vida, como é?