maio 17, 2011

mar e sal

se esvai-se em areia por não saber que ama, meu amor, não sei, esvai, de quando em quando, sem saber como, em grande quantidade, água, talvez, água salgada, com certeza, se o seu é areia, o meu é mar, sem dúvida, e mar morto sai, sai de mim e invade tudo: tudo e tudo e tudo desmorona, tudo e tudo e tudo cai, tudo está destruído então, NÃO não eu não vou deixar ele sair daqui, eu não vou deixar você ver, eu tenho vergonha disso: sim, eu tenho vergonha, eu tenho dó de você, eu não quero assim, não quero te ver aos pedaços, destruído, eu não posso: eu tenho vergonha da intensidade que isso sai de mim e eu preciso parar, eu preciso barrar, não! e quando mar, amor, sai, e se sair, e se invandir, e se nossa cidade, e se nosso lugar (nossa cama) for esse meu mar, então, o que você fará? e se você for embora, sair de mansinho, espantado, e se você tiver medo de tsunami, e se você não aguentar, e se não quiser, eu não posso te obrigar a, e eu vou chorar, eu vou chorar, eu vou chorar, ah, eu não quero mais chorar, eu não quero mais sentir dor, eu estou cansada. se você não quiser nem que seja um pouco de mim, do líquido oblíquo dos meus olhos pretos, meu amor, eu vou me transbordar, e não é amor: é só tristeza em si imensa e azul-turquesa; e eu não posso deixar essa tristeza me transbordar, porque eu posso morrer, morrer afogada, amor, mas então, se eu nunca vou deixar sair de mim esse mar, esse mar que aqui persiste embora não transborde, eu vou morrer de qualquer jeito: vou morrer afogada por dentro, sufocada por si, e eu não sei, amor, mas talvez assim seja melhor, para nós dois, para nós três, para nós seis, porque assim só eu morro, e lentamente, e enquanto isso vivo, e na vida, finjo que amo e que gosto disso.