junho 10, 2011

subjuntivo

quisera que só de me olhar você me quisesse. que fixasse seus olhos ágeis em mim, que se demorasse em minha imagem, que escolhesse em mim o que mais te provoca. que me disesse, entre um riso entrecortado. e que tampouco eu precisasse responder, nem mesmo reagir, que fosse possível só te olhar, e desse olhar você pudesse extrair meu desejo. meu desejo interno é convulso e hiperbólico. fica aqui, reprimido no meu próprio corpo. quisera que só de me olhar você puxasse de mim essa vontade. te juro que é insaciável, uma sede imensa - uma sede de anos. e que no meu corpo você ficasse, o quanto quisesse, perdurasse, e que tudo o mais seria o seu: sem mais mistério então. e que mesmo assim você encontrasse mistério no abismal dos meus olhos. e que neles demorasse a se adentrar, um pouco receado. receio também me afeta, me alimenta. e nesse intervalo, então, eu já me contorceria toda: seria só sua sem mais. e que desse nosso olhar o mundo se extinguisse, nada mais existe, então. exitngue de mim esse desejo e junto do desejo, o mundo. se não desejo, não há porque haver resto de mundo, meu bem. e não é que chegamos ao fim: seria só o início.
mas que mais não posso te falar, não assim. queria mesmo é que você me olhasse, e só assim, eu já me sentiria um pouco mais aquecida. e só assim, eu poderia te olhar de volta, aceitando sem pestanejar o abismo do seu ser. em mim há espaço para tudo: espaço para seu choro escondido, sua solidão, espaço para seu amor piegas, espaço para seu tesão afoito. te dou todo o espaço que em mim habita para que você possa me preencher. me preencher sem escolher, de todas as maneiras, de todo o seu ser. e tendo todo o seu ser em mim, agora preenchida, quase sufocada, eu arderia. arderia para você, a qualquer momento do dia. e enfim, sorriria.
bastava mesmo que você me olhasse - com toda a vontade - e se achegasse, sem me deixar aflita de alguma desistência. queria mesmo que você fechasse os olhos e desse penhasco se jogasse - lá no fundo a água é gélida mas te espera. e a correnteza te levaria, leve, por onde você quisesse. prometo todo o meu amor, por fim, se é capaz de me olhar. e tão narcisa sou eu, a querer que você se aproxime primeiro, a querer que você se apaixone pela minha imagem (e tão só minha imagem, nada mais) que depois viraria pó: me humilharia, pequena, te daria mundos e fundos.
por isso perdoe minha vontade enorme que você se cole em mim. perdoe minha resistência se você não vem, com toda a certeza. perdoe minha tristeza se você não fixa seus olhos - de uma vez por todas - em mim. se você não quer, tudo bem. tenho vivido razoavelmente bem, sem grandes entregas. mas se você me olha assim - meio de lado, meio querendo - minha alma ambiciosa sacoleja desesperada, então perdoe se eu te escolho sem saber - juro, sem saber - e se dessa escolha eu espero, e enquanto espero só sei começar minha escrita no subjuntivo. subjunto o seu desejo, petrifico em mim o seu começo, me delicio se te imagino, triste fico porque não é isso. por isso, quisera. quisera que só de olhar você me quisesse - no meu desejo, mal vejo solução: veio junto dele o pessimismo gasto, a possibilidade inerte do não. sempre, do não. e fico aqui a contar, para me dispersar, porque assim, não sei me expressar. e as palavras já vão se acabando (elas já estavam se acabando no segundo parágrafo), já vão se rareando, se encolhendo e a vontade de dizer fica mínima, a inventar firulas, palavrear apenas para embelezar. embelezar o terrível de estar sozinha e fingir, assim, que meia dúzia de palavras decorativas serviriam para enobrecer a dor já velha. a dor inata. já vai se acabando, e eu sinto mais vontade de contar. contar não sei o quê, mas ao terminar resta-me eu mesma e minha mesquinharia, meu egoísmo, meu narciso, espelho, resta meu desespero calmo, minha falta. resta eu mesma que pouco me aguento - e se você me quisesse, talvez pudesse comigo dividir o fardo de tudo isso sentir. mas e se você me quisesse...
não mais agora.