novembro 20, 2013

tragédia em suspenso

a tragédia se fez em suspenso - e tudo se fez em suspenso.

sobrevoar em você, exercício platônico, jogo que tem durado uns infinitos. a fisgada parecia por demais perigosa. sempre parece. morro no mar de não-aguentar as asas suspensas se retesar. 

gaivota branca branca de chapa. maconha entorta os músculos, lerdeia a palavra exata. arredonda. quarteirões de perambulação. dúvida-hesitação. 

os peixes todos que queria comer, os cinzas-feios, os coloridos, os mal-cheirosos, os voadores, escorregadiços, meu bico fino. sequer me enfiei. 

esse negócio de morrer na praia redundante literal popularesco e certeiro: faz-me morrer em desejos. talvez essas metáforas sejam levianas por demais. o afogar não hesita, os deuses não deram suas graças.

a vontade deste corpo carcomida, o aplauso da plateia se perdeu. o último olhar, qualquer despedida, se fez bobagem: os deuses choram, os rituais esquecidos. maldita criação cristã-ateia que não se apega. talvez uma última-única umidade consentida seria o bastante. dos olhos, dos corpos.

qualquer bobagem, qualquer dizer. a memória no corpo guarda esse calor - o da suspensão, o da promessa eterna, da fé. ritual solitário e silenciado. o horizonte arma-se contra as rezas dos desejos. mas suspenso, o vislumbre permanece.

utópico, cego, errante. em suspenso o definitivo, o chorar ou o gozar.