março 04, 2009

e na porta do céu.

e então o manto da Morte desceu sobre mim. tudo bem, contando que nos últimos tempos, eu só via deserto e deserto e aquela luz dourada e tremeluzante que me roubou o mundo.
contente de chegar aos reinos do céu, esperando por uma brisa reveladora, vi, de longe que não parecia São Pedro aquele cara na portaria. até porque São Pedro tem idade, digamos, um vovô rigoroso da ética e da moral, e lá de lá eu podia ver que o cara era um adolescente. talvez fosse mais novo que eu. foi quando cheguei bem pertinho, bem cauteloso (quem sabe não é o diabo tentando me enganar, ou uma provação do Senhor)... e AH! ENTENDI TUDO, SEU FILHODAPUTA.
o adolescente era enorme, tríceps do tamanho de ninbus, um peitoral definido, uma sunga cor azul anil que se confundia com o céu ao redor. um cabelo dourado e cacheado que lhe caía nos olhos, uns caracóis perfeitos e curtos. os olhos eram vermelhos, tão vermelhos quanto o sol, dava-me agonia de tentar olhá-los. e a pele dourada, parecia emitir tamanho calor de vulcão em erupção.
- chega aí, véio.
a voz era grossa, e só de abrir a boca, senti tal calor do mundo inteiro em um orifício só. tinha na mão uma garrafa co um líquido rosa fluorescente dentro, gotículas de água permeavam o vidro, aquilo era demais pra mim, eu e minha garganta sequinha sequinha.
- quem é o senhor? (assim de letra minúscula, se me permitem)
- sou Calor, brow.
- e é você que comanda tudo isso?
- sou eu, sim. maior parada legal.
- e cadê todos os Outros? (com letra maíuscula, peloamordedeus)
- se mandaram, véi.
- como assim, e a pobre da Terra?
- eles usaram um ditado de vocês, um tal de 'cada povo escolhe o governante que tem.'
ele me parecia meio estúpido, meio lento. fiquei esperando mais explicações, um pouco inconformado. mas contive minha revolta... afinal, eu era magro e sem vida. apenas um sopro de alma desqualificada.
- Zeus fez uma cena tal, com a ajuda daquele tal do Dionísio... enfiou um raio no peito dele, caralho! disse assim 'saio da vida, pra entrar na história'. ele tá mei doidão, sei lá, acho que usou drogas, hehehe, sabecomoé, o cara num é vivo num é morto, e ele que fez a História.
não sabia se ele zombava de mim. minha garganta d'alma sequinha sequinha, se tivesse água no espírito da gente, estaria todo derretido aos pés daquele senhorzinho maldito.
- você pode me dar um pouco disso?
- como se atreve? acho quê voce merece uma segunda vida. o planeta tá uma beleza com eu por aqui, várias mulheres de biquinis, coisa e tal e tal coisa, que tal voltar?
- ah não, prefiro a brisa daqui. me disseram que venta que é uma beleza, verdade?
- véio, isso num é você que escolhe, tá ligado?
e me empurrou com aquele dedo enorme, aquele dedo quente, parecia ponta de cigarro na pele da gente.
e enquanto caía gritei:
- quem é sua mãe, caralho?
- a mulher do diabo, véi! mulher de diabo fiel num é!