julho 22, 2011

então vai

porque ela parava, séria, e olhava para o longe, porque isso e porque nada dizia, e deixava os braços pendendo ao lado do corpo, e mais nada, nenhuma carícia e mais nada, como se eu não existisse, como se noutro segundo não estávamos aos beijos? porque isso que não se podia, que eu preferia que ela bebesse e não parasse, e não pensasse, mas que tudo que eu falo responde com murmúrios ou começa desembestadamente a falar de coisas que não importam - eu só queria aquele corpo bem junto do meu só isso - porque nem ela estava ouvindo o que dizia, dizia aquilo para afastar, me afastar, afastar aquele silêncio de que é feito dois corpos quando se juntam e porque quando ela disse que tinha que ir embora eu não fiz questão de dizer fica, fica um pouco mais, comigo, fica eu te faço sorrir, fica, eu não quis dizer porque não sei se posso, se poderia fazê-la sorrir, se teria que conviver com aquela distância do olhar, como um quê de insatisfação daquilo que nem sequer começou, da descrença e da apatia, ou do não-sei, de tudo que me mina, me faz baixar a auto-estima, e eu, pobre de mim, que já a tenho pouca, que toquei nas suas mãos com as minhas tremendo que não tenho coragem de abrir os olhos quando a beijo, eu, pobre de mim, não poderia, então vai, vai e leva tudo isso, leva com você, já que é seu, já que insiste em dizer que é assim, que nasceu assim, vai e me deixa, me deixa a perguntar, sozinho, o que eu fiz de nós, se é que existe nós,

são os nós, querido, são os nós, aqui dentro, nós, nós no estômago, na veia cardíaca, na artéria, nós, que me impedem de respirar, nós, nós nos dedos, nós, são os nós, querido