o céu cor de cobre
permeia o ar de ocre
e o roxo dos edifícios,
tudo cobre.
há fios demais:
é o céu dos pardais
é nosso marasmo sem paz.
(cantam as gaivotas
entoam suas revoltas,
mas ninguém jamais volta
pro azul que se gosta.)
amarelam-se os rostos
acizentam-se os postos
- arrancaram-me os tatos.
quero quero não mais quer
bem-te-vi não te vejo:
não te quero
nem te desejo.
explode no céu uma luz
todo o povo ela seduz
- é luz de pólvora e chama.
chama lá os enfermos
sem perna e sem termos!
para dar-lhes rua dura
e céu noite de estrelas.
é, para mim, gravura
apenas uma pintura
- coisa que se atura.
é feita de sólida solidão
por matar seu artista pagão,
e manchar seu corante
sem a poesia de ser amante.
cidade mundo aqui chora,
se pinta como cor de amora
estende o fim que se demora.
e os corpos nas ruas
vivos se queimam
e ainda brilham, ofuscam
as luzes nuas.
amanhece a chuva,
lavaram as curvas
- a vida é tão turva.
a luz era só a noite
a noite era só a morte
a morte era só um corte
o corte que é sua sorte.
gaviões negros satisfeitos
abutres riram-se todos
urubus em prosa rasa
e o corvo tudo abraça.