julho 16, 2009

vontade

vontade de ver inúmeras boas propagandas, porque elas são tão plásticas quanto me sinto
vontade de escrever ininterruptamente para preencher o vazio
vontade de não escrever para ofender minha própria vontade
vontade de não ser, não fazer, não crer
querer que tudo dê certo, se vingar de um deus oblíquo
vontade de ir, sem ter por onde começar
não querer ler outro livro, por sentir os fantasmas do recém-chegado
vontade de me enfiar entre páginas saborosas de fatos absurdos
não vontade de ver filmes
não vontade de rir
odiar o olho que brilha por muito olhar essas telas
essas telas piscam, repiscam, revoltam, e brilham
as telas ofuscam a alma repartida
vontade de estar quebrada, vontade erótica inexplicável
vontade de ter você, sem te conhecer direito
ódio, ódio platônico para verificar a vida em mim
vontade de não viver, desaparecer por uns poucos
de não ter paz, de estar numa ilha, robson cruzué
vontade de montanha, de neve, de bolha de sabão
de chorar, e segurar o choro, prender na garganta
de escalar as escadas do céu e encontrar o gigante que a tudo supervisiona e dizer-lhe
ei, dê me uma única vontade, uma vontade que me valha
pois estou gasta, senhor, estou gasta de não-vontades e falsidade
estou gasta senhor, de mim mesma, dessa minha pele, dessa minha alma mesquinha
dê-me outras palavras preu recomeçar, dê-me outro caminho
faça voltar o tempo das pegadas, faça-me fazer a dor por vias certas
ah! vontade de descer no submundo e me colecionar as almas doloridas
e dizer-lhes baixinho, num sussuro fúnebre, muito me admira vocês, queridas
podem me dar uma forcinha? vou voltar lá pra cima e preciso
e preciso de seu arrepio, de seu susto, preciso de seu sorriso maldicente
veja que vontade de apelar ao infinito
e que vontades fracas são estas
se o infinito nada tem a ver com o terreno que aqui se estende
e com minha sina que não se move
um trem que anda e anda e anda e anda
mas eu estou na estação
eu não estou na estação
eu subi no trem
pra onde ele vai, moço?
vontade de te ter, moço
entre as lenhas do vapor deste trem
e me desfazer no apito que soa e na fumaça que se funde aos céus
e me fazer conhecer tudo que há contigo, moço
para onde eu vou, moço?