julho 18, 2009

em branco.

não sei como chama isso, mas é algo como cansaço de ser triste. a tristeza absoluta que transborda todos os poros e toma conta de todo o corpo, atinge a alma feito faca, e faz nascer lágrimas nos olhos. é como dormir por horas, acordar, e querer dormir mais. e dormir nunca é suficiente, pois seus sonhos vem visitá-lo, e a cama é desconfortável, e revira-se em você, dobra-se com o lençol, se esparrama pela dor. é como sentir fome, e toda comida ser intragável. é como querer sorrir, mas todo riso parecer hipócrita. essa tristeza que tem dono e motivo, mas não se vê fim, e por isso é absoluta. nehum livro de auto-ajuda poderá te explicar. os seus membros parecem pesados; seu corpo todo é chumbo. essa tristeza não-cíclica, que se apela ao divino. pede-se ao sol, ao vento, à lua. faz-se macumba e simpatia. medita-se com contas sem fim. reza-se pai nosso, lendo o papel na sua frente. você até iria em um culto. mas não. toda tentativa de apelação parece inacabada, frustrada, vencida pelo cansaço corporal. o peso da alma é o peso do corpo, sempre latente. um topor de querer fechar os olhos até que tudo passe. espero que tudo passe. e que tudo termine bem. a única coisa que se consegue repetir para si mesma são coleções de frases clichês. uma luz infinita, inventar memórias de um futuro-sorriso. mas ter sua memória afetada pelo horror das visões soturnas. as visões enterlacam-se. quero dormir. dormir. e tem que se viver. tem que se sorrir. tem que continuar. o torpor quase vence. não se morre, pois não se pode. se você morrer, alguém precisará de você, lá, quando você ainda tiver força para segurar a mão pequenininha, escondida na sua própria, e chorar de ver seu riso abrir-se. então continua-se. o cansaço tenta, mas tenta também a possibilidade. a sonolência avança, mas sabe-se do sonho. as orações, alguma hora, fazem efeito. farão efeito. terão que.
tudo terminará bem. tudo vai passar. tudo terminará bem. está tudo bem. ok. dorme aqui comigo. fica quietinha, dorme aqui comigo, minha pequenininha.