a produção cinematográfica indpendente está morrendo e eu nem comecei a vivê-la. saiu hoje, matéria na Ilustrada, o panorama está péssimo. tampouco, não precisa-se avaliar as produtoras fechadas nos EUA e na Europa, embora os fatos do primeiro mundo ecomm aqui neste país brazilis, apenas as opções de filmes para assistir que temos. Campinas, um milhão de habitantes, quase nada de cinema nas ruas, poucas cinematecas. está tudo concentrado nos shoppings, com seu gosto peculiar às grandes massas, as superproduções juvenis, o vendável, o entretenimento não-saudável. e eu aqui, acreditando no futuro do cinema. e eu aqui, acreditando nos frutos do cinema. mas isso me fez pensar no papel que o audiovisiual tem. é necessário querer transformá-lo mais que mera diversão, em fazê-lo como arte, que visa desarrumar a alma do espectador?
isso me faz lembrar uma profesorra de português minha, no época do boom do Tropa de Elite. ela disse que aquele filme, além de ser violento e ter muitos palavrões, condenava tudo que podia-se assistir ao jornal todos os dias. na hora, fiquei olhando para ela, inconformada. se eu tivesse colhões - ai, que droga de cromossomo X - mas se eu tivesse colhões, teria lhe dito umas poucas e boas. teria levantado e lhe dito que, embora não seja fã número um de Tropa de Elite, justamente por tal obsessão pouco prática e reflexiva dos jovens, achava extremamente importante que notícias transformassem-se em arte. ora, então, senhora, ler Cidade e as Serras é uma besteira, nos dias de hoje, estamos enfadonho das modernidades das cidades. ora, então, disse-me uma vez... a senhora... que seu livro preferido era Dom Quixote. bom, eu digo que qualquer ser humano sabe muito bem da parte que se cala, e da parte que fala, do ser que sonha e aquele que é prático. somos feitos dessas metades, e não é preciso ler Dom Quixote para descobrir. por que a senhora está tão bravinha? sim, eu sei, são obescenidades o que acabo de falar. tanto é a sua colocação infeliz. esta mesma senhora, disse que não queria ler A Insustentável Leveza do Ser porque o filme era muito pornográfico. muito... quê? onde a senhora enfiou a sua extina juventude? onde é que se foi um pouco do seu hedonismo, um pouco do seu Dom Quixote, ora essas, libido, a senhora não tem? acho que só tem cu para enfiar tais opiniões sem fundamento.
para ela falta libido, para mim colhões, mas nós duas temos cu. acho que uma pessoa assim não deveria dar aula de literatura. como é que ela sente, como é que ela pulsa, como é que ela entra na alma desavessa dos livros que lê? mas deixemos a professora, voltemos ao assunto principal.
acho Tropa de Elite fenomenal, como qualquer outro que explore, um pouco, da condição que grupos marginais sobrevivem e como isso se densenrola na ordem social das coisas. acho que o cinema é o um dos meios mais fáceis de atingir o público, sim. pois exposições de arte necessitam tirar aquele estigma de gente culta que frequenta tais lugares, necessitam ser mais abertas, mais cultura. e os livros dependem das pessoas. dependem que elas comprem, se interessem, se dignem ir até o fim, terem tamanha coragem de se ver descritos nas linhas, e continuar a comer, mesmo assim, o que é amargo. os livros são deixados de lado. o teatro, hoje, é uma arte de requinte, que tem que aspirar a vontade de ir, a vontade de se envolver. todas as artes tem estigmas e sofrem preconceitos globais. a população emergente, que é a maioria, é excluída do que é arte, que é direcionada para as classes médias e altas da população. e nem estas classes dão o digno valor. o cinema não tem estigma, ainda. o cinema é cultuado, por todos.
mas aí fica a questão: o cinema cultuado não são todas as superproduções, que se enchem de clichês e roteiros pouco surpreendentes, que vem com valores mastigados para o grande público? o panorama da arte são nuvens cinzas que tudo cobrem. que saída temos, nós? a arte tem que ser salva, antes de sua morte completa. pois não chamarei de arte aqui o que é grotesco, grandioso e puramente vendável.