julho 14, 2009

é preciso muito ócio.

nestes dias percebo, e não posso negar diante da desvirtude que é a humildade sem propósito, o quanto meus pensamentos tem-se exaltado, saltado, de um canto para o outro, irriquietos, criando concepções para tudo, entendendo cada instante que meu corpo responde com suas reações biológicas, analisando friamente situações ordinárias. isso se deve, mais uma vez penso, ao ócio que esses dias de férias absolutas me proporcionam. é claro que isso está muito errado, pois uma vestibulanda que se preze não deveria ter férias absolutas, mas vejo que... por aqui escrever essas bobeiras sem sentido... perdi já o gosto de estudar, até minhas queridas prioritárias, como história que ainda está parada lá em Roma decadente. mas deixemos essa consciência furtiva, que ás vezes aparece feito fantasma dentro meus pensamentos acalorados, recobrando-me objetividade na vida. ela deveria entender que sou muito pouco objetiva, meus atos, meus sentimentos e tudo mais que pertence à mim é quase tudo subjetivo, quase inentendível, nebuloso até para eu mesma. e talvez por isso me deixo perder-se no mundo aqui que existe dentro da nossa mente.
logo, a conclusão máxima, é que um filósofo, em dignas condições de poder ser chamado de um, tinha tempo (e dinheiro) de sobra. estes seres iluminados, taciturnos à luz do dia, ignorados pela grande parte da população que prefere idolatar profetas com suas certezas imediatas, deveriam (ou devem, essa mania do passado me persegue) andar por aí, para pensar como o mundo deve ser e o que fazer para explicá-lo. eu, na minha santa ignorância graçasadeus, sei pouco de filósofos. acho mui interessante este ramo primário das ciências, mas me contento em observá-lo a distância. o que sei de filosofia está na metade do Mundo de Sofia que consegui ler, duas vezes, e que me fez aprender corretamente a principal discussão de Platão; o que me dá devidos créditos quando alguém cita o seu nome. de resto, nada sei. quando leio artigos que se referem a estes pensadores, penso: Webber? mas o que Webber fazia da vida? ele andava por aí, colecionava seus pensamentos, escrevia-os (como não faço), publicava compilações e era um filósofo? máque? como alguém se torna filósofo, deus do céu? por que existem mil ensinamentos de auto-ajuda do Einstein se meu esterótipo dele era um físico genial que nunca saía de seu laboratório, cuja única foto que conseguiram capturar foi de sua língua infantil e lunática? como Einstein, em sua santa e deusificada genialidade, entendia de como seguir na vida? vê como meus pensamentos saltam instantaneamente de um assunto a outro, sem encontrar solução? zero numa dissertação de vestibular, eu diria. mas como é que se acha solução para tudo?
de tantos filósofos que temos, o mundo parece muito mais misterioso do que o era. é claro que o conhecimento acumulado é infinitamente gigantesco, mas creio que as dúvidas se tornaram a melhor maneira de responder aos segredos do mundo. temos um filósofo Sicrano que diz isso e aquilo, e o Fulano que diz aquilo e isso; diz-se que a credibilidade dos dois é importante, tem-se o terceiro estudande de Filosofia que os confronta, e disso só sai mais pontos de interrogação. as visões de mundo são tantas, se intercalam, e nada explica. a verdade é que, para grande maioria, a explicação mais visível é a sua própria. comunistas e sua crença cega em Marx, crentes prósperos da Igreja Universal, indigentes e suas filosofias sórdidas e desprezíveis, artistas e sua mania de explicar o mundo por subentendidos, acadêmicos e a credibilidade inata nos livros científicos, trabalhadores cansados que querem assistir à novela, gente que acredita mais em Mega-Sena e Big Brother do que em Deus, seminaristas conformados à deriva, chefes políticos envoltos em brumas de corrupção, jornalistas e suas meia mentiras (e por que não meia verdades?), ícones desapropiados dependentes, favelados e sua ambição narcotráfica, gays e sua luta ideológica, neonazistas ocultos por imagens aprovadas pela sociedade, prostitutas e sua sorte abandonada, adolescentes ansiosos pela próxima festa, crianças espantadas com o mundo visto pela primeira vez. cada indíviduo não está nem aí para o que acham os mestres da arte de pensar, pois possuem em seu cerne, também, o proveito de utilizar as faculdades mentais. das coisas mais banais às concepções mais complexas e reveladoras, defendo uma filosofia transmutável e pessoal. e dessa maneira, sei que defendo, juntamente à esta liberdade, largar o mundo ao caos. e que assim, ficará impossível implantar qualquer ismo, fazer acreditar qualquer religião, montar o mundo de qualquer forma social e imaginável. pois o inimaginável do outro, escondido por seus olhos atribulados, é um mundo que deve ser respeitado, que deve ser consolidado. este é um mundo de caos, onde prostitutas dão à luz do dia, velhos fumam maconha no meio da praça, arrogantes não mais contém seu ódio invisível, jovens destroem monumentos públicos. haverá conflitos por toda a parte, haverá citações horrendas, haverá mais pastores do que já estamos cansados, haverá mais panfletos políticos. mas os pastores, como os arrogantes, e toda a gente poderá ver o que há dentro de cada um - e não poderá corrigir, pois dentro de si mesmo sabe o que há de sujo, e que ainda segue, sem um olhar para trás, pois a sua própria ideologia que vigorará. o mundo que eu defendo é horrível, e só pode ser visto em literatura, já que faço parte, um pouco, dos artistas que vêem um mundo veemeente e utópico, à sua maneira egoísta, e o expressam por recursos sórdidos, como o uso correto das palavras dispostas em frases argumentativas. sou profeta da destruição, pois sou profeta da liberdade, e esta, cruel senhora de olhos rapinos, quando atingida por completo, por todos os poros que tangem à pele de todo (e qualquer) ser humano, se proliferará em destruição atômica, lenta, mas atômica. e isso, posso me explicar, é que tenho horror à tortura, a tortura de tudo que podem imaginar - a tortura de nos impor sistemas repugnantes, de formentar nossas mentes com idéias que não são nossas, de nos impor sentimentos que jamais nos pertenceriam, de fazer brotar vontades estranhas à nossa alma, de impedir nossos desejos, de demoralizar a corrida pelo nosso sonho sem nem darmos o primeiro passo, de nos oferecerem o pior pesadelo, forçarem a ir contra nossa ideologia interna, aceitar os preceitos arrogantes do outro, da fome, da imundície, e da limpeza exagerada quando se quer sujeira, do frio, das pancadas, das obrigações, das responsabilidades, do tempo, do cárcere, de estarmos tão cansados que nem mais nos pergutamos, a aceitação plena do que é normal, mortal, ético e racional, de nos esquecermos das perguntas, de nos privar de conhecimento e cultura, de nos privar de ócio, de dar ócio a quem estora de energia, de toda e qualquer tortura. e tudo, meudeus, tudo parece-me uma tortura, uma tentativa de me reformular inteira, desde os ossos até a alma, até meus sentimentos, que deveriam ser irracionais e conduzidos cegos pela bombeamento rápido do sangue pelo meu corpo, e que são controlados... são amordaçados. e por isso, a liberdade, a liberdade é o que mais carece este corpo jovem e já dilacerado, destas mãos que escrevem - talvez não tão bem - mas com ardor, com esperança. com esperança de que ouçam, e de que a liberdade possa ser praticada, mesmo que seja vil; pois toda a maldade que ela desencadeará, não deve ser tão grande quanto essa maldade que nos é imposta - e nem nos damos conta.